quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

O Sim

CRONICAS PARA MEU FILHO

Qualquer pai bem carimbado sabe que a palavra mais incisiva que uma criança aprende e pode dizer – quando não coincide de ser a primeira a ser dita – é o não. Algumas inclusive ficam anos e anos até apreenderem a próxima palavra (como se só soubessem esta), tal é a sua força, o seu uso e os resultados alcançados pelos pequenos quando pronunciam um definitivo não. Claro que ao longo da vida vamos precisar dizer muito não para muita gente. Mas alguns começam cedo – e não param mais. Ninguém com menos de dois anos de idade resiste ao não que afronta multidões. Eles, os indomáveis. E tudo porque esta é a palavra mais redonda da Língua Portuguesa, a mais exata, a mais definitiva, a mais contundente, a que melhor convence (e mais rápido), principalmente quando o assunto é com os bem pequenos. A capacidade de convencimento do não quero, do não gosto, do não faço simplesmente não tem paralelo. Não mesmo!
Todos já se depararam com esse não ao longo da vida de pai. Já o nascimento de seu oposto – o sim – este poucos viram florescer. Outro dia, aconteceu que vínhamos nós três, eu, meu filho de seis anos e sua priminha, a pequena de um ano e dez meses. De repente estamos conversando e um de nós concorda com algo que o outro disse, quando ela descobre, fascinada, a comunicação do sim. Fica repetindo ao nosso lado sim, sim, sim. Imediatamente nos olhamos, o estranhamento é total; na idade dela, o mais comum é ouvirmos o seu tradicional e redondo não, daquele para o qual não há nenhum outro recurso possível a não ser o conformismo, a derrota, a desolação – e as doces palavras que tranqüilizam tudo no fim – Tá meu filho, o teu pai deixa.
Naquele dia, depois de ouvir o nosso diálogo, a pequena iniciou uma falação que não teve fim, onde, a cada tanto, ela saltitava um agudo e risonho sim.
Meu filho não perdeu tempo:
– Agora ela só vai dizer sim. O tempo todo.
Fiz que sim com a cabeça, com os braços, com tudo. Era melhor não contrariar a pequena indomável. Vai que ela começa a dizer não de novo.