quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Benedito, negro

Benedito João dos Santos Silva Beleléu vulgo Negro Dito, cantava o poeta.

Era tarde, e à sua frente um surd´ouvinte a remexer um palito, já usado, na boca.

Era noite forte, escura de não se enxergar, e estava ele num dos corredores da cidade, feito isca de polícia, ali, parado. Ao seu lado o periculum in mora.

Esperavam.

Um, Benedito: chapéu quebrado para o lado, fumos enrolando nacos de fumaça no ar, e o ar típico das quebrantas do mundaréu... Aquela espera tinha o ar definitivo de certas insanidades transitórias.

Benedito a cantarolar:

– E se chamar a polícia a boca espuma de ódio.

O outro: desconhecido até ali que a noite ajuntou, este apenas ouvia, mas definitivo desinteresse infantil de quem assevera só por contrariar:

– E o quico eu tenho com isso, meu?

Até amanhã, disse este outro que a essas alturas puta que partiu e partiu.

Aquele vai mas não volta, disse o que ficou – Benedito – e ficou imóvel porque no mesmo instante a viatura do preconceito cantava pneus, fechava o beco rasgando as paredes laterais com as luzes projetadas nos desatinos da sirene insistente. Num arroubo de farta agilidade, os cops já ia levando o Negro Dito de volta para beleléu.

Sim, o ano era 1943, eram dois velhos malandros, e este diálogo nunca aconteceu.