sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Nos corredores

Everson Correlato, eis meu nome. Sempre vi com certa estranheza o meu nome, e nunca soube o porquê. Penso isso enquanto caminho pelos corredores sem fim desta instituição, deste prédio imenso e branco que funciona como uma espécie de reflexão. E na compactação dura destas paredes, é grande o frio que sinto por dentro. Assuntos, lembranças, correlações, agora, a natureza morta, a frieza de azulejos, quadros de gosto ordinário, formando um paredão asséptico e previamente escolhido – não por mim. São corredores intermináveis que diariamente me levam para a sala fechada, de mobília limpa que visito (sou aqui uma visita), e enquanto não saio do quarto, organizo mentalmente a higiene a fazer.

Sei que tem alguma coisa me come por dentro, mas eles não querem me dizer, nunca dizem, pergunto, nada. E de tudo que agora vou lembrando (alguém, um amigo) esta pessoa sempre me dizia que os eventos engolidos e não digeridos acabam por nos causar raiva, e a raiva causa depois aquilo tudo. O que era aquilo tudo? O meu amigo sempre queria conversar comigo sobre discernimento e ficava me dizendo que percebia o invisível, o que as pessoas não conseguem compreender. Chamava aquilo “capacidade de apanhar as coisas no ar”; eu achava pouco objetivo da parte dele. Mas quantas vezes em outros corredores da vida, ele me apanhou para conversar “vem cá”, e eu fugia?

Hoje procuro algo nesses corredores. Não encontro. Entro, saio, fico caminhando lá fora, no pátio (única liberdade que tenho), mas quando entro tudo retorna. Tudo que perdi... Primeiro, os amigos, depois as noites de cerveja com os amigos, por fim os amigos se foram, sobrou o resto e o resto era nada. E agora esses corredores vazios estão aqui para me lembrar os imbróglios se acumulando dentro de mim, as paredes se fechando... E agora eles são intermináveis e me levam cada vez mais para dentro de mim, apertando, lentamente se fechando... Colado a esta parede, estou correlacionado a algo que não sei o que é. Talvez nada. É quando leio a placa no fim do corredor.

Cheguei à saída.

Nessa hora, alguém sempre apanha meu braço:

– Senhor Everson, hora de ir para o quarto. Já lhe disse, não tem nada lá fora, fica tranquilo que amanhã passa.

Não passa.

Ideia original: setembro de 2006