quinta-feira, 17 de julho de 2014

Receita culinária para solteiros



Primeiro, leia esta receita com atenção do princípio ao fim.
(Você descobrirá que não é nenhum gênio da culinária e que realmente as receitas estão no mundo para ajudá-lo, acredite.)
Depois verifique se todos os ingredientes foram comprados.
(Agora que você já voltou do supermercado, vamos em frente, já é tarde.)
Antes, não se esqueça de ir até a área de serviço e dar comida aos peixes.
(Eles não têm culpa se ontem você esqueceu completamente deles quando voltou torto de bêbado para casa – alguém aí ainda usa “torto”?)
Abra a boca do fogão, e sinta por uns instantes o cheiro do gás.
(As companhias de gás costumam cortar o fornecimento depois de dois meses, e você provavelmente esqueceu.)
Agora suba a manga da camisa, dê dois passos em frente e abrace aquela louça que está em cima da pia há quatro dias.
(Sim, você não pensou que ela iria sair dali, e é certo que você vai precisar daquela sua melhor panela de alumínio encardida.)
É necessário que, antes de mais nada, você abra a geladeira e jogue fora aquele pé de brócolis que dever estar ali há semanas.
(Ou você pensou que aquele cheiro de câmara mortuário era próprio da geladeira....?)
Bom, agora que já percebeu que não há a chance mínima de você prestar atenção no texto desta receita, em qualquer bula de remédio ou manual de instrução, desista.
O Seu Joaquim do restaurante da esquina serve uma bela feijoada aos sábados.

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Legado

 Ao acordar numa manhã qualquer de julho, notei uma pequena marca no calcanhar do pé direito. Lembrou-me uma fixação destas feitas por ação de um grampeador, e isso me deixou intrigado. Ao olhar mais detidamente, percebi também que havia outra marca na panturrilha e outras tantas subindo o corpo de modo que a minha barriga mais parecia o gramado um campo de futebol, visto de cima, às vésperas do início da partida.
A disposição tática das marcas assemelhava-se aos tantos esquemas de jogo que eu já havia escutado ao longo de pouco mais de um mês de Copa do Mundo.
Era hora de abandonar o futebol.

Ou esquecer grampeadores – e toda sorte de trabalho acumulado em minha mesa.