Amanhã será o mesmo
Julieta caminha por entre os grandes prédios
do centro financeiro de Frankfurt. Revê seus passos, anos atrás, a glória de
poder frequentar aquelas salas, ouvir histórias, de certa forma fazer parte
daquele sucesso empresarial. Nunca viu cifras, estratégias ou relatórios.
Jamais em alguma reunião de negócios, em mesa ampla, oval, decisória, lotadas
de planilhas e projeções.
Olha para o prédio. Será que ainda
estão lá os mesmos homens de dentes caninos e cabelos acinzentados, devoradores
de capitais e ativos financeiros? Quais eram os seus sonhos e desejos? Alguma
vez amaram na vida? São perguntas que Julieta se faz enquanto pela calçada
avança pelo descampado urbano em direção àquele empilhamento de janelas e
andares, paredes frias a sustentar decisões práticas e objetivas, típicas dos
senhores donos desses prédios de tão altos negócios e negociatas.
Hoje ela subirá aqueles tantos
pavimentos, mas não como a moça de negócios concluídos em salas fechadas,
adaptadas para aquele uso e fim, locais com certo luxo pragmático, de luxo
improvável nas baixas temperaturas do inverno alemão. Antes de entrar no
prédio, ela para diante do painel externo de janelas: em algum lugar eles fumam
seus charutos caribenho e o bem seu uísque inglês, enquanto aguardam a próxima
decisão.
Sim, Julieta conhece uma parte daquilo tudo. Julieta do Espírito Santo era uma brasileira bastante requisitada, nome citado em rodas de luxo, ou em conversas mais ou menos negociais. Hoje, não. Hoje ela acionará os botões dos andares de ontem, quando ela era jovem e garantia de sucesso. Antes, ingressará com um antigo cartão de acesso vip, ainda válido. Descerá em algum andar específico. Passará pela frente das portas das salas, olhará nomes em placas de acrílico, onde nomes desconhecidos indicam cargos que ela já não sabe mais a função.
Nunca soube.
Sobe andares, escolhe o 38º. Alguma lembrança, nome, velha paixão morta. Para diante da porta: a ausência de indicação ou placa, ou mesmo do nome dele. Também ele não está ali há muito tempo. Inútil perguntar. O tempo... Nunca mais.
Amanhã será o mesmo.
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