Alta Exposição
A sinfonia das grandes feiras. Impossível não pensar nisso, ali, parado diante das três bolas gigantescas que são a marca de identificação do maior evento do agronegócio do Estado do Rio Grande do Sul. A exposição internacional de Esteio, a Expointer. O meu passeio tinha que começar por ali, pela infância.
Na infância, o pai me levava na exposição, e as bolas eram fantásticas, gigantescas, lindas, alucinógenas eu quero dizer – mas eu não sabia o que alucinava e o que não alucinava. O passeio pelo parque de exposições começava pelas gigantescas bolas coloridas e era quase todo preenchido pelo meu fascínio por vacas, ovelhas e equipamentos agrícolas. Não havia pessoas. Pouco lembro delas.
Ontem, o meu passeio era outro. A multidão. Eu sempre quis compreender o que move as pessoas nesses megaeventos, ainda que qualquer um possa me dizer que há muita coisa para se ver. É o que fiz. Pelo menos tentei.
A primeira coisa que me interessou foi o Homem do Gato. Estranho ir a uma exposição de animais e ver um desses artistas da fome que fazem show em lugares públicos para tentar driblar a vida e arrumar algum. Quase duas horas de passeio e a única coisa que conseguiu me reter dez minutos foi aquele sujeito de imita estar batendo num gato dentro de um saco. O sujeito fica naquilo horas, atrai um monte de gente. Eu fascinado pelo artista popular. E fiquei ali, na maior obviedade da feira. Faltava sentido naquilo tudo. Mas o que é “sentido” numa feira de agronegócio quando você não tem negócio nenhum?
Adiante parei para ouvir aproximadamente umas vinte explicações sobre: criação de faisões, peso médio dos caprinos, melhores regiões para o plantio de canola, a produtividade por hectare de uma semeadora, a melhor forma de armazenamento de grãos, sistemas bionergéticos de produção de óleo vegetal... Sim foi ali, no estande na Universidade Federal que percebi o que eu estava fazendo na feira. Eu tinha um negócio.
Ninguém ouve tanta explicação sobre como soja, canola e mamona transformam-se em combustível vegetal se não tiver alguma coisa verde nos olhos da moça que apresentava o painel. Também ninguém fica ouvindo toda uma explanação sobre o “ciclo da produção agrícola”, aquela coisa “do produtor ao consumidor” se não tiver algum sorriso deslizando pelo canto da boca (aquela covinha, eu sempre me apaixono por mulheres com covinhas no queixo). Creio, por fim, que nenhuma pessoa permanece tanto tempo ouvindo a explicação dos vários usos do couro no vestuário se não tiver à sua frente alguém esteticamente perfumado... Acordei quando meu filho disse que precisava ir ao banheiro.
Perdido na feira atrás do banheiro. Assim foi que cheguei nela. A linda policial que prestava serviços, esse dia, no pavilhão 48. Eu pensando que talvez não fosse oportuno retirar a atenção de uma policial em serviço num evento tão grande como aquele. Sempre pode ter alguém mais a perigo. Mas – dane-se – as pessoas sempre fazem perguntar idiotas para o policiamento nessas feiras populacionais, e eu sempre fico meio idiota nessas aglomerações humanas. Foi o que fiz, idiota, a pergunta. Não esperava aquela receptividade toda, ela caminhando conosco, conduzindo-nos calmamente até a porta do banheiro. Falava bonito, articulado, uma autêntica oficial a serviço da comunidade.
Antes de ela ir embora, pedi um minuto, olhei bem para ela com um olhar de conquistador que eu tinha há 20 anos atrás e a pergunta me foi inevitável:
- A gente pode dar uma cantada numa policial em serviço, ou isso será interpretado como uma tentativa de lhe tirar a atenção?
Ela foi seca como o arroz descascado que eu tinha visto dez minutos atrás:
- Cidadão, o senhor está numa alta exposição comigo aqui agora. Talvez o senhor precise de ajuda... Procure o serviço de informações que fica no pavilhão ao lado.
Apontou a direção, deu às costas, foi embora. Fiquei com a impressão de que ela não tinha entendido a minha pergunta.
Na infância, o pai me levava na exposição, e as bolas eram fantásticas, gigantescas, lindas, alucinógenas eu quero dizer – mas eu não sabia o que alucinava e o que não alucinava. O passeio pelo parque de exposições começava pelas gigantescas bolas coloridas e era quase todo preenchido pelo meu fascínio por vacas, ovelhas e equipamentos agrícolas. Não havia pessoas. Pouco lembro delas.
Ontem, o meu passeio era outro. A multidão. Eu sempre quis compreender o que move as pessoas nesses megaeventos, ainda que qualquer um possa me dizer que há muita coisa para se ver. É o que fiz. Pelo menos tentei.
A primeira coisa que me interessou foi o Homem do Gato. Estranho ir a uma exposição de animais e ver um desses artistas da fome que fazem show em lugares públicos para tentar driblar a vida e arrumar algum. Quase duas horas de passeio e a única coisa que conseguiu me reter dez minutos foi aquele sujeito de imita estar batendo num gato dentro de um saco. O sujeito fica naquilo horas, atrai um monte de gente. Eu fascinado pelo artista popular. E fiquei ali, na maior obviedade da feira. Faltava sentido naquilo tudo. Mas o que é “sentido” numa feira de agronegócio quando você não tem negócio nenhum?
Adiante parei para ouvir aproximadamente umas vinte explicações sobre: criação de faisões, peso médio dos caprinos, melhores regiões para o plantio de canola, a produtividade por hectare de uma semeadora, a melhor forma de armazenamento de grãos, sistemas bionergéticos de produção de óleo vegetal... Sim foi ali, no estande na Universidade Federal que percebi o que eu estava fazendo na feira. Eu tinha um negócio.
Ninguém ouve tanta explicação sobre como soja, canola e mamona transformam-se em combustível vegetal se não tiver alguma coisa verde nos olhos da moça que apresentava o painel. Também ninguém fica ouvindo toda uma explanação sobre o “ciclo da produção agrícola”, aquela coisa “do produtor ao consumidor” se não tiver algum sorriso deslizando pelo canto da boca (aquela covinha, eu sempre me apaixono por mulheres com covinhas no queixo). Creio, por fim, que nenhuma pessoa permanece tanto tempo ouvindo a explicação dos vários usos do couro no vestuário se não tiver à sua frente alguém esteticamente perfumado... Acordei quando meu filho disse que precisava ir ao banheiro.
Perdido na feira atrás do banheiro. Assim foi que cheguei nela. A linda policial que prestava serviços, esse dia, no pavilhão 48. Eu pensando que talvez não fosse oportuno retirar a atenção de uma policial em serviço num evento tão grande como aquele. Sempre pode ter alguém mais a perigo. Mas – dane-se – as pessoas sempre fazem perguntar idiotas para o policiamento nessas feiras populacionais, e eu sempre fico meio idiota nessas aglomerações humanas. Foi o que fiz, idiota, a pergunta. Não esperava aquela receptividade toda, ela caminhando conosco, conduzindo-nos calmamente até a porta do banheiro. Falava bonito, articulado, uma autêntica oficial a serviço da comunidade.
Antes de ela ir embora, pedi um minuto, olhei bem para ela com um olhar de conquistador que eu tinha há 20 anos atrás e a pergunta me foi inevitável:
- A gente pode dar uma cantada numa policial em serviço, ou isso será interpretado como uma tentativa de lhe tirar a atenção?
Ela foi seca como o arroz descascado que eu tinha visto dez minutos atrás:
- Cidadão, o senhor está numa alta exposição comigo aqui agora. Talvez o senhor precise de ajuda... Procure o serviço de informações que fica no pavilhão ao lado.
Apontou a direção, deu às costas, foi embora. Fiquei com a impressão de que ela não tinha entendido a minha pergunta.
1 ComentÁrios:
Vivemos no meio de gente...Vamos às feiras etc. para ver alguma coisa diferente, mas são as pessoas que parecem encantar.
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