Hora de terminar
Comecei tarde, terminou nesse movimento louco de dedos e pincéis, a dança, a falta de inspiração que tenho à minha frente. Lembra um pouco a obra máxima jamais produzida, o grand finale, o delírio extremo, o prazer máximo, a glória, mas não é nada disso; é apenas uma hora da manhã e estou sozinho diante da tela vazia. A falta de inspiração. O suor a inundar o espaço em branco diante de mim. Nada a escrever, nada a pensar, apenas a o movimento retórico de uma idéia mal concebida, e a tela que insiste em se reproduzir. Em um instante, apago. Depois vem o azul, a luz balança, tudo escuro, estou no fundo da noite.
Com a luz, vai embora também o olhar nervoso dos meus desejos; desligo a última tomada, desligo-me a mim. Sou um relatório sem fim.
Vejo o resultado (escuro) e sei que hoje não há pintura, nem obra, nem arte pronta, crua, cozida ou acabada. Sou o vazio de uma sala escuro em que todos os meus desejos saíram pela única porta.
Foram sem mim.
As palavras neste exato momento me fugiram, ficou a noite e um breve ponto de luz que se apaga.
Sobrou o pincel e a superfície lisa, rebeldia a comandar a dança dos pêlos, o movimento retilíneo da limpeza fora de hora. A carência. São quase duas da manhã e me vejo diante do teclado que estou a limpar no escuro da falta de razão.
Comecei tarde, sem hora para terminar.
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