Hei de te esquecer
(Hoje)
Hoje, passeando por paisagens conhecidas, antes navegadas, correndo meus dedos na impaciência do brilho falso de nossa mesa de reuniões, eram os meus olhos que mergulhavam na memória de outros passeios, estes pretéritos, recolhidos e perfeitos, atrás, meses de procura, de encontros em ambientes fechados e agora esse circuito compacto de olhares alheios a nos vigiarem, é ali que meus dedos escorregam pelo declive de sua geografia repisada, memória estacionada, balanço de outras passagens, desafios, abraços, tropeços, afetos, tudo recolhido à minha frente nesse estreito limite de indecência e territorialidade, separados que estamos pelo tampo de vidro e dois assentos, neste instante então em que me vejo pasmo com a visão opaca do brilho morto dos cabelos dela, ao mesmo tempo em que me lembro da conveniência de ter dito não, outro dia, meses atrás, em outro lugar, quando finalmente me decidi e levantei e abri a porta e fui dizendo tchau, enquanto apalpava a lâmina fria que carregava no bolso, pronta como estava para ser usada em nosso último encontro, formalidade que cruza como um risco a fórmica desta mesa, pula da memória, cai desse passeio para territórios vizinhos, nos domínios dela, outrora meus, essa lembrança perturba o meu entendimento e não ouço nada ao meu redor, pois a dor na mente é como o toque da lâmina na mão que apalpava, minutos antes, o seu ventre improdutivo de mulher deitada, à espera, enquanto a esperam, então eu disse não e ela ficou deitada, a imagem de uma morte sem brilho deixada naquele quarto de hotel, agora ressurge à minha frente, mas é uma imagem sem vida, a lembrança de um reto equívoco, liso, escorregadio, porém passado e definitivo, pois apesar de seus olhos vagarem nas colinas do meu desconforto, este tormento me escapa, reflui, e consigo evitar seus olhos, evitamos, passeamos entre canetas e relatórios, olhares e desculpas jogadas na mesa, improváveis, impossibilidades ditas entre o desejo e a falta de coragem, a mesma de dizer não, e foi dito, e disse, e decidido levanto a mão e peço a palavra ao diretor.
(Eu hei de esquecê-la.)
Hoje, passeando por paisagens conhecidas, antes navegadas, correndo meus dedos na impaciência do brilho falso de nossa mesa de reuniões, eram os meus olhos que mergulhavam na memória de outros passeios, estes pretéritos, recolhidos e perfeitos, atrás, meses de procura, de encontros em ambientes fechados e agora esse circuito compacto de olhares alheios a nos vigiarem, é ali que meus dedos escorregam pelo declive de sua geografia repisada, memória estacionada, balanço de outras passagens, desafios, abraços, tropeços, afetos, tudo recolhido à minha frente nesse estreito limite de indecência e territorialidade, separados que estamos pelo tampo de vidro e dois assentos, neste instante então em que me vejo pasmo com a visão opaca do brilho morto dos cabelos dela, ao mesmo tempo em que me lembro da conveniência de ter dito não, outro dia, meses atrás, em outro lugar, quando finalmente me decidi e levantei e abri a porta e fui dizendo tchau, enquanto apalpava a lâmina fria que carregava no bolso, pronta como estava para ser usada em nosso último encontro, formalidade que cruza como um risco a fórmica desta mesa, pula da memória, cai desse passeio para territórios vizinhos, nos domínios dela, outrora meus, essa lembrança perturba o meu entendimento e não ouço nada ao meu redor, pois a dor na mente é como o toque da lâmina na mão que apalpava, minutos antes, o seu ventre improdutivo de mulher deitada, à espera, enquanto a esperam, então eu disse não e ela ficou deitada, a imagem de uma morte sem brilho deixada naquele quarto de hotel, agora ressurge à minha frente, mas é uma imagem sem vida, a lembrança de um reto equívoco, liso, escorregadio, porém passado e definitivo, pois apesar de seus olhos vagarem nas colinas do meu desconforto, este tormento me escapa, reflui, e consigo evitar seus olhos, evitamos, passeamos entre canetas e relatórios, olhares e desculpas jogadas na mesa, improváveis, impossibilidades ditas entre o desejo e a falta de coragem, a mesma de dizer não, e foi dito, e disse, e decidido levanto a mão e peço a palavra ao diretor.
(Eu hei de esquecê-la.)
1 ComentÁrios:
Grande Ed,
ótimo texto!
Gostei de ler.
Abraço,
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