quinta-feira, 9 de outubro de 2008

O nove no hospital

CRÔNICAS A MEU FILHO

Estou acompanhando a lição de casa do meu filho de sete anos. Entre as imagens e números, vejo que a tarefa consiste em somar números e associá-los a letras, formando-se então as palavras. Os desenhos são meros exercícios de transposição visual da palavra que se forma diante de inúmeras cenas. Meu papel é secundário nessa execução; não estou ali para corrigi-lo, tampouco completar toda sorte de esquecimento – e as crianças de sete anos são bastante esquecidas. Ele me mostra a tarefa. A impressão de que um vendaval passou pelos números, muitos estão inclinados e outros parecem que foram amassados. Sei que ele está contando o tempo e tem os pensamentos na brincadeira lá fora, daqui a pouco, como o amigo do condomínio; o tema é apenas um rito de passagem, e é por isso que toda pressa é pouco. Antes que se levante num raio, aponto o número nove, que mais parece uma cobra com a cabeça gigante, e pergunto:
– E esse aí, até parece que levou um soco e caiu deitado.
Mateus ri; em seguida apanha a borracha, apaga tudo, borra outro tanto, mas finalmente reescreve o número nove. A conta fica inteira – e o nove de pé.
– Olha, pai, o nove já voltou do hospital.

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