quarta-feira, 9 de junho de 2010

Hermes

Quando Hermes chegou em casa, ele não encontrou ninguém, nada que indicasse vida no apartamento. A louça suja na pia e a televisão ligada indicavam que haviam saído às pressas, como quem foge. Nem a consideração de um único bilhete, mesmo que fosse de despedida.
Desconfiou do papel que viu em cima da mesa. Era uma intimação, aviso de despejo, algo parecido. Negócios que ele teria que resolver – enquanto os outros bem longe.
Onde?
Lembrou o trabalho que teria pela frente. Livra-se do apartamento e sem dar na vista de ninguém; evitar os comentários e a curiosidade do síndico; tarefa árdua, logo ele, o menos experiente da organização. Pensou em um mensageiro (o chefe adoraria saber que ele tomou uma decisão), um garoto de recados, uma criança. Lembrou que estava com sede e abriu a geladeira.
Calor.
A geladeira vazia.
Fria.
Nem uma garrafa de água.
Voltou para a sala, desligou a tevê (sim, ainda estava ligada).
No quarto procurou suas roupas (os infelizes tinham levado tudo).
Ao lado do roupeiro, uma garrafa de leite (cheirou – mais uma noite mal dormida).
O leite sempre acalma Hermes.
Bebeu.
Onde teriam ido?
Televisão sempre o deixa nervoso.
Será que voltam?
Hermes sentado ao lado da cama, o lençol desfeito, a sensação de que antes de irem tiveram a gana de deixarem seus cheiros evolando-se pelo quarto.
Agarra a ponta da fronha, o travesseiro é uma pasta ao fundo, e tudo está muito confuso na vida de Hermes.
E ele chora.

1 ComentÁrios:

Blogger Aureo Marcus Makiyama Lopes said...

Ed,

tu acreditas que eu só vi o teu comentário mais de 1 ano depois... cara eu não entendo nada disto.

mas vou te linkar também. dê umas dicas aí para mim, meu caro.

um abs

aureo

quarta-feira, 16 junho, 2010  

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