quinta-feira, 30 de junho de 2011

Prolegômenos

Outro dia eu encontrei o pai. Era um senhor vestido de sobretudo, chapéu de feltro e mãos nos bolsos. Cruzamos pelas alamedas daquele centro de compras, e eu tive a certeza de que com aquele frio só poderia ser o meu pai. Ele sempre foi muito frio comigo.
Antes de ontem o vi na rua. Era um tanto quanto escuro o beco em que ele se encontrava naquele momento, e eu tive dúvida se aquele era realmente o pai que eu sempre esperei ter. Sim, mas era.
Ontem vieram me dizer – e foi o meu irmão – que o pai seria internado em um hospital da cidade. Nunca gostei de encontrá-lo nesses lugares, mas quantas foram as vezes em que tivemos a oportunidade de escolher as formas de convívio? Receio que levarei de dois a três dias para visitá-lo. Eu sempre fui muito duro com o pai.
Agora a pouco atendi um telefonema e nada falei. Pra quê? Se já sei onde irei encontrá-lo, me digam, por que todos esses prolegômenos? Se nunca tivemos tanta intimidade, eu pergunto.

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