A noite que não foi
Cruzo pela porta lateral do bar. Estão lá os grandes cestos de lixo, pilhas de sacos, latas extraviadas, cacos e cascas. Fico a imaginar a agitação da noite anterior, ali, naquele meio de quadra, quarteirão da moda, penso isso no exato momento em que relembro a noite que não foi.
O convite.
O aceite.
O descompasso de algum mal-entendido, telefonema perdido, perdição de estar sentado horas e horas diante de uma garrafa de cerveja a esperá-la.
E ela não veio.
Esta noite não aconteceu.
Não foi.
Cruzo pela porta lateral do meu existir. Entro. Tudo está como deixei, horas atrás, noites atrás. Todas noites isso faço: entro, despejo o casaco e me sento a um canto, fico a admirar não só os copos de uísque que derrubo, mas os erros empilhados, as memórias extraviadas, os cascos e as carícias. Fico a imaginar o que teria sido se naquela noite, ali, tivesse a encontrado no meio de mim.
Aquela noite não foi.
Ela não foi.
E eu nunca fiquei sabendo.
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