segunda-feira, 25 de julho de 2011

Roberto

Madrugada. Alguém agoniza. Ao redor, parentes. Poucos. E bem poucos ainda a acreditarem na mágica esfarrapada dos médicos.
Outra madrugada, e agora Roberto, o filho mais novo do moribundo, levanta e num gesto inesperado mais conivente apaga as luzes. Ficam as velas – e o olhar incrédulo de um ou outro que ainda estava acordado – e que acorda e agora dorme de novo. Sim, o resto dormitava, aprofundados numa espécie do sono da fuga. Esperavam, no insólito de uma noite mal dormida, a chegada do dia, da hora clara, do término, enterro, fim. Despachar aquele ali deitado para o lado de lá – a providência de olhar a cada instante o relógio.
Antes, ela chega. Viva, fria, a madrugada evola – e na dança incorpórea da hora madrasta dos moribundos, o tempo vai derrubando um a um. Só resta acordado o cão, sempre fiel, ao lado de quem tanto admirou e nunca o compreendeu. Sentado ao pé do morto ele olha através da fresta da janela um pedaço de lua lá fora.
E ele esteve ali a vida inteira – e a vida inteira lhe foi nada.
Este cão chamado Roberto.

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