Este ser, aqui avante
CRÔNICAS AO MEU FILHO
Entender - tudo o que o goleiro queria. Antes ele tinha que apanhar a bola lá no fundo das redes. Era gol, afinal, e esse inacreditável soluço que o acometeu:
O susto.
O susto.
Aquele ser gigante, de disparate cabelo ruivo e de
largas espáduas, esta profunda envergadura que os nadadores têm –
ele era um peixe fora d´água em frente ao goleiro – e o goleiro
era susto e pulsação diante daquela aparição repentina: o ser avante.
Que começara sua disparada instantes antes quando o
inesperado o então beque central ruivo avançou até o meio de campo, logo-logo um solitário centroavante, como alguém que sem esperar, não espera o
gol, mas então ele sai da defesa e outros jogadores da partida ficam para
trás na linha burra do anti-impedimento... E então, feito um banhista no litoral das águas, ele
assoma a praia, eis a área do goleiro e numa manhã dita morna de outono ele
alcança mais algumas jardas – enquanto lá atrás, ainda surpresos
e já perplexos, os outros jogadores ficavam na inércia de quem não entendeu nada...
Mas eis então o ser que avança, e como diante dele de repente apenas
a bola e o goleiro (onde o impedimento? cadê o bandeirinha?), ele
chuta:
O medo do goleiro diante do ser avante.
E o chute, arte que se atura, estrutura complexa, risco no céu que sai meio tosco, sem consciência ou pensar, o pontapé na bola vai de
revesgueio, e como um desassossego surpreende o goleiro:
Foi a bola, seu destino, finito, enfado, gol.
Mora lá, descansa em paz nas redes da cidadela.
A mesma paz que deixou atônito o goleiro, a vítima do
improvável, daqui por diante, verdade seja dita, um belo gol !! E enquanto o arqueiro busca compreender o que aconteceu, o atacante ruivo ainda pensar no
próximo ato: comemorar aos pulos ou esperar?
Também ele tenta em vão entender o absurdo de fazer um
belo gol.
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