Sacha (as coisas de Ramiro)
No escritório, seis da tarde. O círculo de pequenos executivos está ao redor de uma mesa posta: doces, salgados e algumas garrafas de refrigerante. O motivo da festa é que é o último dia da estagiária na companhia; recém formada, ela agora não poderá ficar mais trabalhando nesse estágio. Ela sorri, mas queria ficar mais um tempo ali. Por razão que ela não se conhece, o gerente, Ramiro recomendou sua contratação, mas a diretoria, sem muita explicação, disse não.
O constrangimento é geral. Melhor funcionária do que muitos ali presentes, Sacha vai embora sem mesmo saber por que não foi efetivada. Olha ao redor; todos riem, alguns estendem o prato e pedem mais uma fatia.
Paulo, o subgerente, observa o nervosismo no rosto da menina, na mão que corta a torta imaginando solicitudes. É Sacha. Mas Paulo nunca foi muito otimista em relação a ela. Sacha ri, nem desconfia, e alcança a melhor fatia de bolo para ele. Paulo também ri, depois vira o rosto, gira pela sala, procurando conversa, procurando Ramiro. Onde está Ramiro? ainda pensa quando vê o espaço vazio ao seu lado por um dos tantos chatos ali presentes.
A chefe imediata de Sacha, a Senhora Matos e Silva, está bem longe. Só agora ela repassa o dia e percebe que poderia ter aproveitado melhor o último dia de sua estagiária, afinal já faz quinze minutos que ela largou a última tarefa. Um desperdício essas garotas e suas miniblusas, microsaias, isso tudo bem pouco. Sim, precisa falar com Ramiro. Mas onde ele está o bendito cujo?
Carolina, a outra estagiária, é a única contente no amplo espaço do décimo sétimo andar. Tão contente que agora mesmo inventou um copo de bebida derramado na blusa, e zás, pronto, saiu. Correndo para o banheiro. Suas demoras no banheiro já são uma marca registrada e objeto de desconforto para a chefia imediata ali presente.
Meia hora depois, ela ainda não voltou. Olhares. Risos baixos. Alguém lá do canto comenta:
– E Ramiro, ele foi embora? – não fala muito alto, com os negócios do funcionário Ramiro ninguém gosta de mexer. – Sujeito esquisito.
O outro aponta:
– Mas ali estão as coisas de Ramiro.
O outro espera todos esquecerem esse circunlóquio ao redor de Ramiro. Então desliza o corpo, serpenteia ao redor da mesa, abaixa-se sobre a cadeira giratória, tal fosse apanhar um achado, e olha, inspeciona. Na mesa: uma extensa tabela, números, dados estatísticos, levantamento de um sem-número de coisas; algumas canetas espalhadas, uma bola de tênis e um velho caderno, similar a uma caderneta de viagem. Sorrateiro, aproxima-se, folheia, abre uma página, é a última. Logo se vê um grande desenho, de um rosto, e é um rosto conhecido.
É Sacha.
Este é o caderno de Ramiro; poucos sabem, mas ele sonha acordado em algum canto do penúltimo andar.
No banheiro, Ramiro chora sobre as mãos, e sobre os seus ombros outros braços, ainda novos e promissores, acolhem o seu soluço.
O constrangimento é geral. Melhor funcionária do que muitos ali presentes, Sacha vai embora sem mesmo saber por que não foi efetivada. Olha ao redor; todos riem, alguns estendem o prato e pedem mais uma fatia.
Paulo, o subgerente, observa o nervosismo no rosto da menina, na mão que corta a torta imaginando solicitudes. É Sacha. Mas Paulo nunca foi muito otimista em relação a ela. Sacha ri, nem desconfia, e alcança a melhor fatia de bolo para ele. Paulo também ri, depois vira o rosto, gira pela sala, procurando conversa, procurando Ramiro. Onde está Ramiro? ainda pensa quando vê o espaço vazio ao seu lado por um dos tantos chatos ali presentes.
A chefe imediata de Sacha, a Senhora Matos e Silva, está bem longe. Só agora ela repassa o dia e percebe que poderia ter aproveitado melhor o último dia de sua estagiária, afinal já faz quinze minutos que ela largou a última tarefa. Um desperdício essas garotas e suas miniblusas, microsaias, isso tudo bem pouco. Sim, precisa falar com Ramiro. Mas onde ele está o bendito cujo?
Carolina, a outra estagiária, é a única contente no amplo espaço do décimo sétimo andar. Tão contente que agora mesmo inventou um copo de bebida derramado na blusa, e zás, pronto, saiu. Correndo para o banheiro. Suas demoras no banheiro já são uma marca registrada e objeto de desconforto para a chefia imediata ali presente.
Meia hora depois, ela ainda não voltou. Olhares. Risos baixos. Alguém lá do canto comenta:
– E Ramiro, ele foi embora? – não fala muito alto, com os negócios do funcionário Ramiro ninguém gosta de mexer. – Sujeito esquisito.
O outro aponta:
– Mas ali estão as coisas de Ramiro.
O outro espera todos esquecerem esse circunlóquio ao redor de Ramiro. Então desliza o corpo, serpenteia ao redor da mesa, abaixa-se sobre a cadeira giratória, tal fosse apanhar um achado, e olha, inspeciona. Na mesa: uma extensa tabela, números, dados estatísticos, levantamento de um sem-número de coisas; algumas canetas espalhadas, uma bola de tênis e um velho caderno, similar a uma caderneta de viagem. Sorrateiro, aproxima-se, folheia, abre uma página, é a última. Logo se vê um grande desenho, de um rosto, e é um rosto conhecido.
É Sacha.
Este é o caderno de Ramiro; poucos sabem, mas ele sonha acordado em algum canto do penúltimo andar.
No banheiro, Ramiro chora sobre as mãos, e sobre os seus ombros outros braços, ainda novos e promissores, acolhem o seu soluço.
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