A herança do pai
Em alguma rádio do circuito das ondas médias – o seu aparelho era mesmo antigo, uma relíquia, herança do velho pai – lembra que foi ali que escutou. Mas não é apenas o rádio que ainda vive mergulhado nessas ondas tão antigas. Suas lembranças também.
Na hora, acreditou em presságio. Algum aviso enviado pelos céus. Passagem de vozes vindas do além. Ou seria a visita por tanto tempo esperada? Enquanto ele se perguntava aonde mesmo andaria seu velho pai? Em noite passada, quase vai acreditando ter escutado ele rondar por ali, a bater com o nó dos dedos na janela da frente, na esperança de encontrar, como naquela novela mexicana, seus parentes vivos num vilarejo empobrecido do interior do país. Mas aquele lugar não era nenhuma vila – era sua casa – e seu pai, seu velho pai estava bem morto – foi ele mesmo quem enterrou – de modo que não podia ser o pai.
Na campanha do rádio, estavam anunciando um concurso para os ouvintes enviarem mensagens com as coisas que aprenderam com seus pais. Escutou tudo bastante atento, ouvido colado no rádio, um chiado no fundo, tentando lembrar os grandes ensinamentos de seu velho pai... Mas o que foi mesmo que aprendeu com o velho? Havia outro chiado, e este era bastante antigo.
E enquanto ele se esforçava em lembrar (o pai chegando em casa), nem percebeu que o filho pequeno (ou seria ele quando pequeno?) entrara esbaforido sala adentro, atrapalhando seus ouvidos, sua escuta, sua atenção (pai, pai...), a interromper a sessão vespertina de rádio, a hora das notícias do pai (do seu pai que gritava... gritava mas exigia silêncio), agora aquela promoção no rádio (como era mesmo?), talvez por isso que ele grite com o filho (seu velho pai gritando da porta “sai vagabundo!”), enxotou o garoto porta fora (ele saindo de casa para nunca mais voltar), o pequeno saindo para nunca mais voltar.
E o menino não foi visto mais naquela noite.
Na hora, acreditou em presságio. Algum aviso enviado pelos céus. Passagem de vozes vindas do além. Ou seria a visita por tanto tempo esperada? Enquanto ele se perguntava aonde mesmo andaria seu velho pai? Em noite passada, quase vai acreditando ter escutado ele rondar por ali, a bater com o nó dos dedos na janela da frente, na esperança de encontrar, como naquela novela mexicana, seus parentes vivos num vilarejo empobrecido do interior do país. Mas aquele lugar não era nenhuma vila – era sua casa – e seu pai, seu velho pai estava bem morto – foi ele mesmo quem enterrou – de modo que não podia ser o pai.
Na campanha do rádio, estavam anunciando um concurso para os ouvintes enviarem mensagens com as coisas que aprenderam com seus pais. Escutou tudo bastante atento, ouvido colado no rádio, um chiado no fundo, tentando lembrar os grandes ensinamentos de seu velho pai... Mas o que foi mesmo que aprendeu com o velho? Havia outro chiado, e este era bastante antigo.
E enquanto ele se esforçava em lembrar (o pai chegando em casa), nem percebeu que o filho pequeno (ou seria ele quando pequeno?) entrara esbaforido sala adentro, atrapalhando seus ouvidos, sua escuta, sua atenção (pai, pai...), a interromper a sessão vespertina de rádio, a hora das notícias do pai (do seu pai que gritava... gritava mas exigia silêncio), agora aquela promoção no rádio (como era mesmo?), talvez por isso que ele grite com o filho (seu velho pai gritando da porta “sai vagabundo!”), enxotou o garoto porta fora (ele saindo de casa para nunca mais voltar), o pequeno saindo para nunca mais voltar.
E o menino não foi visto mais naquela noite.
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