terça-feira, 17 de abril de 2012

Ministério dos comprimidos

O prédio, uma organização.
Andares, divisões, compartimentos, seções.
Na seção, gavetas. Nas gavetas, rótulos. Nos rótulos, a certeza: o ministério estava doente. Um prédio de vinte andares, corredores intermináveis, salas fechadas e sem luz, gavetas, rótulos, incertezas. De quem virá o próximo comando ou anomalia? Impossível saber, assim é no Ministério dos Comprimidos.
São muitos.
Estão em todas as seções desta repartição: são salas apinhadas de velhos móveis em que servidores carcomidos pelo tempo sentam em cadeiras de pouco ou nenhum estofado, e de lá, mais ou menos de seis em seis horas abrem gavetas e delas retiram os frascos e comprimidos.
Ou seriam oprimidos?
Poucos, muitos?
Quem se importa?
E sabe-se agora: não há nenhuma explicação médica razoável para isso... Mas o que é “razoável” num lugar em que se vive sob o medo da Idade das Trevas, ainda que tudo esteja muito iluminado pelo tom gasto e amarelado das luzes florescentes? Vai saber...
Quem sabe, calou. Quem calou, tem gavetas. Nas gavetas, rótulos, fugas, comprimidos, subterfúgios enfim.
Ali, ao lado, neste mesmo instante, observo: é mais um que abre a gaveta.

1 ComentÁrios:

Blogger A VIDA NUMA GOA said...

Chato quando usam este espaço para escrever sobre algo que não o post, né?
Bem, spam isto não é: acabei de ler a sua resenha sobre "Patrimônio" e gostei um bocado.
E favoritei teu blog, a que voltarei.
Também tenho um, fica o convite.
Abraço.

domingo, 29 abril, 2012  

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