A história da minha vida (ou carambolas)
Meu filho trouxe um tema para casa. Nele os pais deveriam escrever dois textos sobre como iniciariam a contar a história de suas vidas. De imediato, a minha primeira reação foi um princípio de pânico. Como iniciar uma coisa dessas? Era o pai contando ao filho – e tinha que ser bom. Na pequena confusão mental que se seguiu, abri espaço entre os anos, furei décadas, costurei eventos e abanei para pessoas, e ao fim desse zapping vertiginoso tive o ímpeto de começar uma delas assim:
Me pediram uma história, a minha; vou contar, afinal, não há de ser difícil contar um começo. Mas onde exatamente começa a história da minha vida? O primeiro movimento sobre duas rodas, quando aprendi a andar de bicicleta? A primeira viagem com meu pai, de caminhão? Um natal em 1974? Aquela professora da 4ª série que gostava muito de mim e força me deu? Realmente uma vida começa em muitos (e bonitos) momentos. Hoje escolhi carambolas – e aquele primeiro dia em que subi sozinho em uma árvore. Isso aconteceu na pré-escola, lá em Canoas...
Era o início.
O tema estava feito, a obrigação cumprida, e então fiquei a imaginar a continuação de tal história – a minha. Difícil crer que contá-la seja mais fácil do que jogar os primeiros dados – e o único dado real que eu tinha eram as carambolas da minha primeira infância.
Por que carambolas?
Novamente, difícil explicar. Ao contrário dos freudianos, os escritores não estão muito preocupados com as explicações dos primeiros anos... Quer dizer, só os cronistas – e então me lembro que isto é uma crônica e eu estou aqui com a mão cheia de carambolas.
Ou no pátio da pré-escola, arranhado depois de pular da árvore das carambolas, olhando para todos os lados a fim de saber se nenhum irmão lassalista me viu em pleno delito.
Era isso: as carambolas simbolizam as primeiras transgressões.
Mas era só isto: um tema a ser feito.
Ou carambolas.
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