Aclamação
Só quem conheceu o terror do lar desorganizado – só este pode falar em
nome do sofrimento procurado.
Roupas pelo chão, garrafas vazias nos cantos e na pia toneladas de
pratos a lavar... comida escondida no forno, mesa desabitada, o pó nas
coisas... e lá na sala, o sofá afundado.
Todos os dias uma família ao estilo Don DeLillo: acordar, trabalhar e
nada questionar. À noite, televisão, este segundo lugar do mundo que
conhecemos. Ninguém comenta: a tela na sala é barulhenta e silenciosa; a
cozinha, um encontro insuportável.
O silêncio dos garfos raspando pratos em quartos de quadrilátera solidão.
Vinte horas: o tédio diante do sofá.
Vida sem vícios ou reclamação.
E nenhuma aclamação.
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