Separação
No final, apenas o fim.
Deixei-a ali, no entreposto dos descartes. Armazém 14. Zona proibida. Espaço entre dois prédios do velho estaleiro – e foi ali que abandonei aquele casamento – que o rio levou.
Primeiro as pernas – e creio que foi há uma semana; dia seguinte abandonei os braços; quatro dias atrás o tronco; a cabeça guardei para hoje. O grande dia. Hoje.
Hoje eles aparecem.
Sirenes. Freadas. Gritos de Parado! Vieram, os dois. Armas apontadas em mãos e rostos fechados. E foram logo: Larga isso! E o outro lá: Mãos na parede. E ela, ainda em estado precário e inacabado de uma obra em construção – boneca desmontada em no chão de brita – enquanto lá atrás, ao fundo, o rio era contínuo em seu violento e repetido movimento. Era observador a consumir-se na breve espera que dividia a minha mais profunda alegria daquele mais recente (e último) fragmento – o capítulo final de minha separação.
Jogada, ali ficou ela: prova de meu delírio a aguardar mãos peritas e insensíveis.
Não as minhas.
Nas minhas, algemas e perplexidade.
Em viaturas. Adiante algumas ruas. Logo chega o cárcere. Até que enfim sozinho. Depois nunca mais ela, depois nunca mais rio, nunca mais pedra, pedaços, pedidos.
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