sexta-feira, 1 de março de 2013

Barriguinha das Aranhas

Os dias todos, aí pelas nove horas da manhã, eu passo em frente à Loja das Aranhas. Leva esse nome porque o dono do lugar é alguém conhecido na área e tem o apelido de Aranha, mas não se trata de ninguém familiarizado com esses bichos – a loja não é uma agroveterinária ou algo do tipo – o negócio ali é outro: naquela esquina vendem-se filmes. Cruzo por ali todo dia, e é comum, mesmo ainda estando fechada a loja a horas tantas, eu me deparar com uma criatura estacada diante da loja, ao lado da porta: é o primeiro cliente. Difícil não reparar nele, afinal é sempre o mesmo sujeito gordo e mal barbeado. Sua barriga tem o formato da bunda de certas aranhas, e não vá ninguém aí pensar que eu sou algum conhecedor das anelosimus eximius. O indivíduo é totalmente anti-social, isto já senti, outra vez que o cumprimentei não recebi nem um resmungo. O que sei mesmo é que ele fica ali paradão um bom tempo, esperando até a loja abrir. Toda vez que passo não deixo de pensar na na ânsia ou na urgência do sujeito em ser atendido.
Isto até ontem.
Ontem eu resolvi frear minha trajetória, esta vida de ente observador e descompromissado das particularidades coletivas desse lado sujo do Centro Histórico, e interrompi a minha ronda por esses recantos ermos da cidade – eu mesmo um caçador de anomalias para os meus relatos iconoclastas – então me postei ao lado do Barriguinha (já podia chamá-lo assim).
Nada falei; nem tampouco ele me olhou (será que dormia escorado?).
Fiquei num pé só, o outro fincado na parede, braços cruzados olhando fixo o outro lado da rua, e quando o primeiro funcionário da loja chegou e ergueu as grades do meu desejo – foi neste dia que virei o cliente número 2 da loja de filmes adultos.
Barriguinha é o número um.
Quem sou eu para retirar o lugar desse biólogo improvisado?

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