300 Mil Mortes
Há parques cujo gramado está seco, na cidade de Almas.
Avenidas vazias.
Silêncio fora de hora e são derradeiros dias, para muitos, os que morrem e os poucos familiares que ficam.
Há andarilhos desconhecidos, aqui e ali, mas estes insistem em caminhar com suas caras carrancudas, desprovidos de máscara, graça ou qualquer equipamento.
Deixam espirros pelo traçado das ruas da cidade – e os corpos enterrados muito longe.
Medo de contaminação.
Não há sorrisos nos rostos – restaram esses cafonas.
Que, disseram-me, não possuem nenhum compromisso com a razão.
De longe venho, estranha missão.
Chego tarde ao endereço, e mesmo assim permaneço um tempo sentado sem sair de dentro do carro.
Nunca gostei do que fizeram com os habitantes desta cidade – Almas –, o tratamento precoce proposto pelos governantes e que levou ao extermínio da própria população.
Em Almas, estou disposto a encontrá-los. Um a um.
Dou uma última conferida: é mesmo este o endereço – o luxo e ostentação não mentem.
Abro o porta-malas do carro, e dali retiro a sacola. Ela está pesada; minha consciência, contudo, continua leve.
Trago a esperança.
Abril de 2021
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