terça-feira, 13 de abril de 2021

300 Mil Mortes

         Há parques cujo gramado está seco, na cidade de Almas.

Avenidas vazias.

Silêncio fora de hora e são derradeiros dias, para muitos, os que morrem e os poucos familiares que ficam.

Há andarilhos desconhecidos, aqui e ali, mas estes insistem em caminhar com suas caras carrancudas, desprovidos de máscara, graça ou qualquer equipamento.

Deixam espirros pelo traçado das ruas da cidade – e os corpos enterrados muito longe.

Medo de contaminação.

Não há sorrisos nos rostos – restaram esses cafonas.

Que, disseram-me, não possuem nenhum compromisso com a razão.

De longe venho, estranha missão.

Chego tarde ao endereço, e mesmo assim permaneço um tempo sentado sem sair de dentro do carro.

Nunca gostei do que fizeram com os habitantes desta cidade – Almas –, o tratamento precoce proposto pelos governantes e que levou ao extermínio da própria população.

Em Almas, estou disposto a encontrá-los. Um a um.

Dou uma última conferida: é mesmo este o endereço – o luxo e ostentação não mentem.

Abro o porta-malas do carro, e dali retiro a sacola. Ela está pesada; minha consciência, contudo, continua leve.

Trago a esperança.


Abril de 2021

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