segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Philip Roth na Biblioteca

Ao aproximar-se da estante e abrir o livro que na primeira página falava das teorias de Portnoy sobre os distúrbios caracterizados pelos choque entre os fortes impulsos éticos e altruísticos e os anseios sexuais e perversos, ele pensou que já tinha um assunto para conversar com a bibliotecária. Sabia que o tema do livro (as fantasias de exibicionismo, voyeurismo, fetichismo, auto-erotismo) e tudo que pudesse lhe causar a leitura do livro não lhe trariam satisfação sexual alguma, mas ele precisava romper com os avassaladores sentimentos de culpa e temor de punição. Precisava falar de uma vez por todas com ela. Apanhou o livro e caminhou em direção ao balcão de retirada.
Era um romance de Philip Roth e estava na estante da Psicologia.
Ao parar diante da moça da biblioteca, ele já tinha todo o discurso preparado. Tinha em mãos um bom assunto (o livro fora do lugar), era só iniciar a conversa. Mas quando os olhos dela encontraram os seus e a pergunta (vai levar?) quebrou toda a seqüência decorada e trouxe de volta todo o temor, ele só conseguiu gaguejar algumas palavras entrecortadas, ditou o número de sua matrícula na universidade, retirou o livro e foi embora.

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