O queijo e seus derivados afetivos
CRÔNICAS A MEU FILHO
Estamos no café da manhã mais demorado da semana. No arrastar de um domingo sonolento, a hora do café se estende, e ficamos um tempo sentados entre afeto, xícaras e talheres. Esse é também o momento em que surgem os assuntos mais sérios entre um pai e seu filho: a esculhambação. Sei que não é muito correto incentivar a bagunça à mesa durante as refeições, mas se não fosse assim, eu agora me pergunto, que assunto eu teria para essas crônicas que deixo ao meu filho de sete anos? Viva a esculhambação!
Sempre aos domingos. Conhecido aqui em casa como o Dia do Queijo. Sempre temos um pedaço de queijo colonial sobre a mesa, seja trazido pelo avô, seja comprado no Mercado Público da cidade. Domingo é o dia dos trabalhos artísticos, das variações poéticas e das bobagens ditas entre uma e outra mordida de queijo; afinal, durante a semana tudo é tão corrido... A rotina é tomar o café, fazer o sanduíche e sair correndo em direção à primeira atividade do dia. As variações artísticas em torno do queijo, entre o pai bobalhão e seu filho encantado, ficam guardadas para o domingo. O dia da criatividade. Está claro que este não é um assunto que interesse a humanidade como um todo, mas o tema é capaz de provocar gotas preciosas de humor àquela que nos acompanha à mesa: a mãe do meu filho. No dia do descanso, o queijo vira o centro das palhaçadas e das pequenas repressões, diluídas na quietude de uma manhã lenta. Nada melhor, nessas horas, do que abandonar o empapado dos pijamas e lembrar a velha parábola sobre o queijo e a lógica. Viro-me para meu filho, forço um olhar sério e começo:
– Sabia que quanto mais queijo menos queijo?
Nos domingos é assim: as besteiras têm que ter um cunho científico.
– Mas como assim, pai?
Então eu preparo o suspense. Os dois me olham, sentados à minha frente, como se ainda estivessem dormindo acordados. Com uma leve batida na mesa, continuo:
– Meu filho, alguns queijos franceses têm tanto buraco e os buracos são tão grandes, mas tão grandes, que quanto mais queijo, mais buraco; e quanto mais buraco, menos queijo; logo, quanto mais queijo, menos queijo.
Ele me olha, torce o beiço, faz uma cara de deixa pra lá:
– Tá, pai, então corta mais uma fatia do queijo do vovô. E não corta tão fina como da outra vez.
Ao deslizar a faca sobre a superfície de nossa felicidade, fico um instante a pensar no queijo e seus derivados afetivos.
Sempre aos domingos. Conhecido aqui em casa como o Dia do Queijo. Sempre temos um pedaço de queijo colonial sobre a mesa, seja trazido pelo avô, seja comprado no Mercado Público da cidade. Domingo é o dia dos trabalhos artísticos, das variações poéticas e das bobagens ditas entre uma e outra mordida de queijo; afinal, durante a semana tudo é tão corrido... A rotina é tomar o café, fazer o sanduíche e sair correndo em direção à primeira atividade do dia. As variações artísticas em torno do queijo, entre o pai bobalhão e seu filho encantado, ficam guardadas para o domingo. O dia da criatividade. Está claro que este não é um assunto que interesse a humanidade como um todo, mas o tema é capaz de provocar gotas preciosas de humor àquela que nos acompanha à mesa: a mãe do meu filho. No dia do descanso, o queijo vira o centro das palhaçadas e das pequenas repressões, diluídas na quietude de uma manhã lenta. Nada melhor, nessas horas, do que abandonar o empapado dos pijamas e lembrar a velha parábola sobre o queijo e a lógica. Viro-me para meu filho, forço um olhar sério e começo:
– Sabia que quanto mais queijo menos queijo?
Nos domingos é assim: as besteiras têm que ter um cunho científico.
– Mas como assim, pai?
Então eu preparo o suspense. Os dois me olham, sentados à minha frente, como se ainda estivessem dormindo acordados. Com uma leve batida na mesa, continuo:
– Meu filho, alguns queijos franceses têm tanto buraco e os buracos são tão grandes, mas tão grandes, que quanto mais queijo, mais buraco; e quanto mais buraco, menos queijo; logo, quanto mais queijo, menos queijo.
Ele me olha, torce o beiço, faz uma cara de deixa pra lá:
– Tá, pai, então corta mais uma fatia do queijo do vovô. E não corta tão fina como da outra vez.
Ao deslizar a faca sobre a superfície de nossa felicidade, fico um instante a pensar no queijo e seus derivados afetivos.
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