Auditório
Gosto de fazer a esposa do meu melhor amigo rir. Ninguém ri com tanta
dança igual ela. Nem as estrelas! Nem as bandeiras de todas as liberdades. Só
fica tudo muito chato quando ele está por perto (esse mineiro não é de sorrir),
em outros auditórios.
Mas não neste – de luzes, fronhas e cetins; de bebidas a dois e sussurros
tais – onde leio para ela trechos de uma certa Verônica:
– Nesta sala só tem objetos utilizados
em homicídios.
Ela ri.
Sei.
Também fez isto quando li a histórias dos anões.
Sei:
Ri pelo fato certo e dado incontestável de saber que não se encontra
agora em nenhuma espécie de avarandado – e muito provavelmente porque ainda não
viu a maleta que deixei embaixo da cama.
Seu riso ecoa, aqui, na audição surda deste espaço fechado, agônico, instantâneo
e definitivo, onde copos circulam em corpos fechados que receitam mentes que se
dizem abertas: libertas quae sera tamem.
Ela ri de meu Latim, ao mesmo tempo em que se olha mais uma vez no
espelho do teto deste nosso palco de garganteios.
Mas gosto quando elas riem; ainda mais quando não percebem o arrastar
surdo desta caixa de ferramentas e metais preciosos, finos e afiados, como me
será o corte dela.
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