Pedofilia, aos 30
Na caminhada, encontro alguém para chamar de amigo.
Vai logo apontando a banda da direita:
– Vamos por esta rua; tem uma escola e por essa hora da manhã as mães
deixam os filhos.
Consinto, mesmo que logo seguida eu fique a refletir sobre a minha
participação social nos delírios de Orlando. E eu odeio caminhadas. Piora
quando ele aparece.
Ao meu lado, no passo cadenciado de dar dó, o indesejado nem espera eu
perguntar:
– As mães têm em torno de 30/35 anos. Tempos atrás elas seriam velhas
para nós; hoje é quase pedofilia.
A pensar fiquei o número de anos que forma o meu acervo de indecências.
Dois velhos rastejando o empapado das calçadas deste bairro de beldades.
Elas: as mães de 30.
Enquanto ao meu lado o asqueroso do Orlando a imaginar talvez o olhar
gracioso de algum mãe trintona em nossa direção – e eu pensando nas crianças,
no perigo de dois velhos obscenos...
Na calçada uma laje, pedra solta, tropeço, e o resto foram sons e
sirenes.
Antes, o abraço dela.
Colírio.
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