O relato de Michel
Algo havia mudado urgentemente pra mim.
Aconteceu quando fui realizar o concurso público. Eu não tinha lido o edital direito, e lá havia uma observação sobre a impossibilidade de se fazer a prova de bermuda.
Restavam 15 minutos para a prova – não havia tempo suficiente para ir em casa de novo. Fiquei agoniado, depois aliviado. Dali mesmo, do portão onde me barraram a entrada, eu avistei um boteco do outro lado da rua.
Corri até lá. O pedido seria inusitado, isso lá seria, mas salvaria a minha pele, e era o que importava. Pedi ao atendente do bar para ele me alugar a calça que usava.... “Era pra fazer a prova...”, minha voz era doce. Dá pra acreditar nisso?! Olhando para o sujeito, olhos nos olhos, a fala mansa e cheia de inclinações, eu lhe oferecia uma bela nota de 50, pela troca ele exigia muito mais.
Fomos para dentro – não dava para trocar de roupa ali, pô. Discutir o preço nem pensar – concordei sem ler a questão. Ao reunir-me com o sujeito no apertado banheiro daquela lanchonete ordinária em cujas paredes expressões cultuadas no linguajar popular dos banheiros de botecos pipocavam, eu, enfim, senti o que nunca tinha sentido na vida. O horror, o encontro dos corpos, a iminência de a sirene tocar logo-logo do outro lado da rua, eu prestes a explodir, enquanto ele pedia pressa na decisão diante das novas exigências (já nem lembrávamos da nota que lhe prometera apalpando o bolso da bermuda): tudo era instante. Àquela altura, a obrigação da prova já surgia como algo tão-tão distante, e eu teria muito o que explicar a mim mesmo.
Ao encontrar a minha namorada na porta de entrada da sala da prova, vestido com a roupa engordurada do atendente de bar, eu tinha os olhos baixos, a sujeira em pensamentos, uma vida pela frente.
Algo definitivamente havia mudado dentro de mim.
Aconteceu quando fui realizar o concurso público. Eu não tinha lido o edital direito, e lá havia uma observação sobre a impossibilidade de se fazer a prova de bermuda.
Restavam 15 minutos para a prova – não havia tempo suficiente para ir em casa de novo. Fiquei agoniado, depois aliviado. Dali mesmo, do portão onde me barraram a entrada, eu avistei um boteco do outro lado da rua.
Corri até lá. O pedido seria inusitado, isso lá seria, mas salvaria a minha pele, e era o que importava. Pedi ao atendente do bar para ele me alugar a calça que usava.... “Era pra fazer a prova...”, minha voz era doce. Dá pra acreditar nisso?! Olhando para o sujeito, olhos nos olhos, a fala mansa e cheia de inclinações, eu lhe oferecia uma bela nota de 50, pela troca ele exigia muito mais.
Fomos para dentro – não dava para trocar de roupa ali, pô. Discutir o preço nem pensar – concordei sem ler a questão. Ao reunir-me com o sujeito no apertado banheiro daquela lanchonete ordinária em cujas paredes expressões cultuadas no linguajar popular dos banheiros de botecos pipocavam, eu, enfim, senti o que nunca tinha sentido na vida. O horror, o encontro dos corpos, a iminência de a sirene tocar logo-logo do outro lado da rua, eu prestes a explodir, enquanto ele pedia pressa na decisão diante das novas exigências (já nem lembrávamos da nota que lhe prometera apalpando o bolso da bermuda): tudo era instante. Àquela altura, a obrigação da prova já surgia como algo tão-tão distante, e eu teria muito o que explicar a mim mesmo.
Ao encontrar a minha namorada na porta de entrada da sala da prova, vestido com a roupa engordurada do atendente de bar, eu tinha os olhos baixos, a sujeira em pensamentos, uma vida pela frente.
Algo definitivamente havia mudado dentro de mim.
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