quarta-feira, 8 de abril de 2009

Vícios

Em linha reta, são pouco mais de dez passos. Nem mais, nem menos. O tempo necessário para preparar o encontro de todas as manhãs. Dentro de poucos segundos ele estará mais uma vez diante dela, e os dois cruzarão incertos por olhares ocasionais (são duas pessoas que caminham pelas ruas desse balneário – e nada mais). Ele estará envolvido em sua estratégia antiga, preso à leitura de um livro, e hoje para impressionar traz preso às mãos o Romanceiro da Inconfidência; ela, seja quem for ela, estará sob qualquer estado de beleza aromático. Dele pode-se dizer que o hábito adquirido de ler caminhando hoje chama mais a atenção do que o seu jeito clandestino de olhar por baixo do boné, de cheirar os pontos austrais que realmente ele não conhece, desconfia. E vai pensar mais uma vez que quem não vê os olhos, as pernas sente. Ele voltará para casa e não terá com quem comentar o seu vício.
O seu vício é ter uma vida sem vícios.
Caminhar lendo. Observar a raridade dos perfumes. Simular situações. E quem sabe outras possibilidades...
Primeiro ele tem que chegar em casa.

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