quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Vanessa

CRÔNICAS A MEU FILHO

A doçura dos oito anos de idade alinhados para mais um dia de aula. O vento a lhe erguer o queixo, a sobrancelha, a reticência diante do estranho que represento e sou. Vejo que seus passos, mais uma vez, têm a decisão de quem não quer conversa, nem boas tardes, nem como vai?, a distância dos ares de simpatia que sempre tento encenar. Cruza, rompe, quase tropeça na timidez, na pedra, na urgência de encontrar o coleguinha de aula mãos dadas com o pai. Mas ela nos ultrapassa, não se despede, alcança o pátio (é um bom lugar para escapar). Ainda se vira uma vez: o olhar é um oi.... o resto é silêncio.
Busco em meu filho alguma marca de reação, mas ele parece ter esquecido a passagem da colega que sempre nos encontra e nunca nos cumprimenta. Insisto no olhar: os adultos são mesmo insistentes em suas incompreensões.
Sem pressa, como se a tarde fosse espessa, sinuosa (pedrinhas para se chutar no meio do caminho), interrompida, aqui e ali, por esses instintos primitivos de antipatia, então ele sacode os ombros, dobra as sobrancelhas e me diz:
– É a Vanessa, pai. Ela é assim.
Fácil entender. Para as crianças o mundo é bem mais fácil de entender.

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