Exposição
Mexe no cabelo. O casaco abriu e fechou inúmeras vezes. Sapato, ela
bate. Pode-se ver, é uma bota. Tem ainda a pintura. Destaque. Dele.
Talvez haja entre eles o silicone. Farto decote a balouçar entre os
espaços desta sala em que poucos, a essa hora da manhã, trabalham.
Então ela fala, e fala. A voz agora soa lhe familiar, e ele, o outro
em sua mesa estratégica lembra. Foi só ontem à noite aconteceu a
descoberta.
Amigos. Carros. Bebidas. Todos os clichês – inclusive ela. E na
chegada à Casa dos Prazeres Proibidos, o inconveniente de
encontrá-la tão solícita, tão outra, tão viva. E ainda ela.
É Thaciane, a estagiária.
Orestes, o chefe, é agora um cemitério de piedade. Rosto ríspido.
Entendimentos contábeis. Escassas palavras. Gestos. Pontes. Olhares.
Sim, ele já prometeu, para si e para todos os santos, que hoje ele
não vai olhar.
Só hoje.
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