Os Ratos no avião
CRÔNICA
Encontro-me no voo para Brasília, Capital Federal do Brasil. Suntuoso
escrever isso quando a importância da viagem resume-se a mais um curso
profissional, treinamento, o nome que queiram dar – ao final tudo são relações
humanas, contatos, acertos, conversas e novos entendimentos que se formam entre
as equipes – e o nome disso é trabalho. Ao meu redor os passageiros em seus
ternos e smartphones me parecem um pouco como ratos que vão para o Planalto
Central do Brasil em busca de dinheiro. Lembram Os ratos de Dyonélio Machado, o livro de 1934 que leio na escuridão desse
tubo de potência, e enquanto não apagam as luzes sigo a leitura.
Ao meu lado, as luzes dos pequenos aparelhos alheios irradiam
contaminação radioativa, mas eu fico pensando mesmo no pesadelo de Naziazeno, o
protagonista de Os ratos, que cercado
de agiotas e vigaristas (alguém ainda usa “vigarista” no Brasil?) segue a senda
de um dia interminável.
Que livro.
Que país é este onde os ratos tomaram conta e agora muitos deles – não digo
todos – estão aqui preenchendo as duzentas e pouco poltronas desta cápsula
deflagrada em Porto Alegre, Província de São Pedro, e eu não vejo a hora de
chegar, porque daqui a pouco apagam as luzes e eu não conseguirei chegar ao
final da leitura – e, pior, nunca saberei quem deles aí dentre os presentes irá
roer o meu livro.
Que livro!
Como o amanuense Naziazeno, eu também tenho medo de ratos.
E este livro, neste voo, confrontam dentro de mim o transcorrer fabuloso
do texto clássico de Dyonélio Machado com
as confabulações incubadas das negociatas da Babilônia de desperdício e da corrupção
da Cidade Plano Piloto, Terra Prometida, Asa Norte/ Asa Sul, ou como escreveu
um deputado em 1922, “Brasília, ou qualquer outro”. Lá onde outros tantos
Naziazenos miseráveis e excluídos da distribuição de renda nacional continuam a
prestar seu trabalho e a alimentar a mordomia d´Os Grandes Ratos Nacionais.
Brasília, 9 horas.
Leiam o livro.
Junho de 2017
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