quarta-feira, 21 de junho de 2017

Os Ratos no avião

CRÔNICA

Encontro-me no voo para Brasília, Capital Federal do Brasil. Suntuoso escrever isso quando a importância da viagem resume-se a mais um curso profissional, treinamento, o nome que queiram dar – ao final tudo são relações humanas, contatos, acertos, conversas e novos entendimentos que se formam entre as equipes – e o nome disso é trabalho. Ao meu redor os passageiros em seus ternos e smartphones me parecem um pouco como ratos que vão para o Planalto Central do Brasil em busca de dinheiro. Lembram Os ratos de Dyonélio Machado, o livro de 1934 que leio na escuridão desse tubo de potência, e enquanto não apagam as luzes sigo a leitura.
Ao meu lado, as luzes dos pequenos aparelhos alheios irradiam contaminação radioativa, mas eu fico pensando mesmo no pesadelo de Naziazeno, o protagonista de Os ratos, que cercado de agiotas e vigaristas (alguém ainda usa “vigarista” no Brasil?) segue a senda de um dia interminável.
Que livro.
Que país é este onde os ratos tomaram conta e agora muitos deles – não digo todos – estão aqui preenchendo as duzentas e pouco poltronas desta cápsula deflagrada em Porto Alegre, Província de São Pedro, e eu não vejo a hora de chegar, porque daqui a pouco apagam as luzes e eu não conseguirei chegar ao final da leitura – e, pior, nunca saberei quem deles aí dentre os presentes irá roer o meu livro.
Que livro!
Como o amanuense Naziazeno, eu também tenho medo de ratos.
E este livro, neste voo, confrontam dentro de mim o transcorrer fabuloso do texto  clássico de Dyonélio Machado com as confabulações incubadas das negociatas da Babilônia de desperdício e da corrupção da Cidade Plano Piloto, Terra Prometida, Asa Norte/ Asa Sul, ou como escreveu um deputado em 1922, “Brasília, ou qualquer outro”. Lá onde outros tantos Naziazenos miseráveis e excluídos da distribuição de renda nacional continuam a prestar seu trabalho e a alimentar a mordomia d´Os Grandes Ratos Nacionais.
Brasília, 9 horas.
Leiam o livro.


Junho de 2017

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