O Poste
CRÔNICA ESPORTIVA DA SEMANA
Leio no jornal da imprensa grande que o jogador do Internacional Gum não quer ser mais chamado dessa forma, mas sim de Wellington Pereira, seu nome de batismo. O pleito é justo; é um direito seu escolher o nome pelo qual gostaria de ser chamado. A reivindicação de WP (será que ele gostaria de ser chamado de WP?) parece, contudo, ser um assunto que interessa particularmente a ele e aos meios de comunicação da capital gaúcha; nós, leitores, é que somos obrigados a ler mais uma notícia que é pura encheção de lingüiça, enrolação, falta de assunto. Será que falta tanto assunto? Tá, quem sabe o problema do nome desse jogador também interesse à sua família, os Pereira, ou ao (agora) famoso amigo de WP em Marília, SP, que aos 5 anos deu o famoso apelido de Goma de Mascar. Imagina se os jogadores fossem chamados assim, pelos apelidos de infância? Trago essa noticia à baila porque hoje eu vou escrever sobre como alguns jogadores poderiam ser chamados no futebol que jogamos às quintas-feiras. É o tema da crônica de hoje. É bom esclarecer o tema. Acusam-me de não ter “um tema” nas minhas crônicas, que sou uma arara vermelha, ou, mais poeticamente, um difusor da “Palavrarara” de Hilda Hilst, mas tenho plena consciência de que não chego nem aos pés da autora de “Fluxo-Floema”. Quem dera!
O nosso futebol. Poucos acompanharam atentamente, mas durante um ano e meio de crônicas esportivas que escrevo para o seleto grupo de amigos do futebol da Coflob – os coflobianos – muitos tipos esquisitos lá surgiram. Não há espaço para enumerá-los todos, aqui, mas quem não lembra do Caneleiro, do Ogro, do Ciscador de Ilusões, o goleiro Degoleirado, do Sherek, do Neanderthal, do Oitavo Siso, do Homem de Cromayon, do Frankstein, do Diabo-Loiro, do Escanhoado, do Não-Me-Toque, do Instrutor, do Cordial Brasileiro, e mais recentemente do Goleiro-Monociclo, do Marcador de Redes, do Ipisilone, do Martim Pescador, do Bicudo e do Sacolão? Até uma Fisioterapeuta Gordinha ganhou crônica pelos serviços prestados à Confraria... Mas digo: a galeria de tipos Coflobianos não termina aí; outros mais poderiam ser citados, e cada um ganhou, no seu devido contexto, uma crônica dedicada ao nobilis apelido, e se esqueço de alguns, repito, é por pura falta de espaço.
No jogo de ontem mais um apelido. É sempre assim. Eles brotam da terra. E se digo que o motor que impulsiona na minha cabeça de cronista esportiva (urgh! Quase tive um troço) a criação desses “nomes”, “apelidos”, é um emaranhado desorganizado de palavras dançando internamente em episódios esdrúxulos, cenas inusitadas e atitudes disformes e aberrantes que vejo – alguns chamam de alucinação, de loucura, porque não entendem a criação –, e tudo isso amigos porque o jogo, para mim, pulsa, ele pulsa. Na sua loucura interna, o jogo é uma alucinação. A gente acredita que é futebol, mas é a vida, ali, durante uma hora, uma vez por semana.
Então ontem, quando o nosso goleiro, batizado assim Degoleirado pelas tantas boladas que leva no pescoço, o dono desta pena (quem é que ainda escreve “pena” ainda hoje? Poor guy, men!) e dessas verdades relativas, o auto-intitulado seguidor das duras pegadas de Hilda Hilst trilhou no universo caleidoscópico e visceralmente poético gerado no ventre de um livro como “Fluxo-Floema” – inclassificável pela crítica – este goleiro ontem poderia ser chamado simplesmente de Poste.
Isso tudo pelas brilhantes defesas – jamais vistas pelo treinador de goleiros presente ao lado do campo ontem – o Uendel da Coflob – caracterizadas pelo bom posicionamento embaixo das traves – salvando, inclusive um chute à queima-roupa –, que atribuo hoje ao nosso goleiro o apelido de Poste. O mesmo poste que impediu aquele atacante de marcar o gol embaixo das traves, sozinho, depois de já vencido o goleiro. Incrível Bicudo ter perdido aquele gol.
Convém lembrar, contudo, que os postes às vezes ficam parados, estáticos.... Exatamente como ocorreu no primeiro e no segundo gol sofridos, ontem à noite, pela minha equipe, e que fizeram Uendel torcer o nariz.
Uendel não gosta de postes.
Porto Alegre, 15 de setembro de 2006.
1 ComentÁrios:
Muito boa!!! Abraço, Alessandro
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