Silêncio
Entro na sala, e mais uma vez, percebo o silêncio do pai. É um silêncio barulhento, cortado por gritos de tira os teus sapatos sujos! não faz barulho, menino! O silêncio do pai é assustador. Quer dizer, primeiro é um silêncio sem palavras, longos dias esperando a sua volta; depois fica insuportável, o barulho da tevê, seu humor.
Aqui em casa, as tardes de domingo são do pai. Eu entro na sala é de metido. Estou dizendo isso porque neste dia a tevê fica para o pai. Entro e lá estão os três, ele, o sofá e o aparelho. Uma conversa de surdos, porque o pai aumenta o volume do televisor toda vez que alguém vem atrapalhar. Quando entro, ele não conversa, só grita, depois é o silêncio, uma espera sem fim. Ausente de casa nos outros dias da semana, tornou-se um estranho para nós. Chega de viagem sábado à tarde, depois da última entrega, vai para o bar, joga cartas com os amigos, bebe, vem para casa, come, dorme. No domingo, a tevê é só dele.
O silêncio do pai é como o sofá em que agora me sento. A gente não consegue conversar, eu e o sofá. Ouço sua reclamação, ao sentar. Fico quieto, agarro-me ao conforto do estofado, ao seu pouco carinho, patrimônio da sala, esquecido, amarrotado. Sentados, somos dois paralíticos diante do homem da tevê que não pára de falar. Diante de nós ele dá risadas de piadas chatas, poderia ser este, ou outro, não faz diferença, o pai continuaria assistindo. O aparelho ficou ligado a tarde inteira, sem trégua ou concessão. Tento falar, avisar que o amigo chegou. Por que não me disse logo!?
Aqui em casa, as tardes de domingo são do pai. Eu entro na sala é de metido. Estou dizendo isso porque neste dia a tevê fica para o pai. Entro e lá estão os três, ele, o sofá e o aparelho. Uma conversa de surdos, porque o pai aumenta o volume do televisor toda vez que alguém vem atrapalhar. Quando entro, ele não conversa, só grita, depois é o silêncio, uma espera sem fim. Ausente de casa nos outros dias da semana, tornou-se um estranho para nós. Chega de viagem sábado à tarde, depois da última entrega, vai para o bar, joga cartas com os amigos, bebe, vem para casa, come, dorme. No domingo, a tevê é só dele.
O silêncio do pai é como o sofá em que agora me sento. A gente não consegue conversar, eu e o sofá. Ouço sua reclamação, ao sentar. Fico quieto, agarro-me ao conforto do estofado, ao seu pouco carinho, patrimônio da sala, esquecido, amarrotado. Sentados, somos dois paralíticos diante do homem da tevê que não pára de falar. Diante de nós ele dá risadas de piadas chatas, poderia ser este, ou outro, não faz diferença, o pai continuaria assistindo. O aparelho ficou ligado a tarde inteira, sem trégua ou concessão. Tento falar, avisar que o amigo chegou. Por que não me disse logo!?
Aos domingos, o silêncio e a rigidez do pai são quebrados apenas ao final da tarde, quando a euforia de algum amigo bate à porta de nossa casa e o convida para uma rodada na esquina.
2 ComentÁrios:
Genial!
Este domingo parece remédio pro fígado.
Postar um comentário
<< Home