Goleiro noturno
SEGUNDA CRÔNICA ESPORTIVA DA LIBERTADORES 2010
No rio de textos e crônicas que invadiram nossos corações e mentes, e que mexeu com nossas leituras e nossas paixões dementes, afirmo que nos textos que abordaram a segunda conquista da Taça Libertadores da América ganha pelo Sport Club Internacional, na noite do dia 18 de agosto de 2010, faltou tratar de um aspecto insólito. Sempre falta contar alguma coisa sobre um evento tão cheio de significados, ainda que para mim, seja qual for o jogo e seja qual for a sua importância, a loucura é sempre a mesma. Ela pulsa aos nossos olhos. Interessa-me, aqui, diferente da linha oficial da crônica oficiosa, o absurdo. O detalhe grotesco. A minha simpatia é pelo oprimidos e pelos esquecidos de todo o gênero. Interesso-me pelo goleiro, este solitário das traves, o homem que vive no cercadinho da grande área. Por vezes, interesso-me tanto por essa figura consagrada por Nelson Rodrigues em sua crônica sobre o goleiro da Copa de 1950 Barbosa, publicada no livro À sombra das chuteiras imortais, que hoje eu vou falar do outro goleiro esquecido pela torcida. O goleiro noturno – ou se preferirem soturno. Seu nome: Pato Abbondanzieri.
Sim, amigos, o jogo é luz; é palco; é o grito da torcida. O grito de alívio de quem vence e tira um peso das costas, ao mesmo tempo em que também é o grito de desespero de quem vê sua vantagem sumir da noite para a noite – e agora o arquirival, o coirmão vermelho, o Colorado, tem o mesmo número de títulos que o Time da Azenha, a Nação Tricolor. Apesar de ser toda essa festa e euforia em exaltar a toda hora e a todo instante o Talismã Colorado chamado Guiliano, o craque, o matador, o homem-gol, o gol mais bonito da história desta Libertadores, devemos lembrar do trabalho de carpintaria dos reservas, dos olvidados para ficarmos com essa rica e sonora palavra espanhola. E dos reservas, aquele que nos garantiu pequenos sucessos que, antes da final, óbvio, nos levaram à final, foi o nosso goleiro. Falo do argentino Pato Abbondanzieri, um protagonista da escuridão, o homem vestido de preto no banco de reserva do Inter na noite de quarta-feira, era ali, quieto, um animal agonizante (na metáfora de Philip Roth) feito guarda noturno, ou se preferirem a palavra antiga, guarda-soturno, acanhado, sozinho, esperando como todo goleiro (reserva) e assistindo ao sucesso (e às tantas falhas) do titular Renan na competição. Mas Pato Abbondanzieri é um predestinado, um goleiro multicampeão pelo Boca Juniors, e que no Inter veio para se tornar o protagonista. E ele foi. O protagonista do absurdo.
Quem não lembra do famoso pênalti revertido por Abbondanzieri em um dos jogos da fase de mata-mata? E o goleiro-volante? Alguém aí esqueceu o papel de Pato na meia cancha colorada, buscando bolas impossíveis na lateral da intermediária? E as defesas espetaculares seguidas de falhas que causavam perplexidade? Difícil esquecer uma figura tal. O Inter sempre se notificou em trazer espécie em extinção na posição número 1. Tranquilos, os torcedores colorados já sabiam que na quarta-feira da glória e da conquista do segundo título latino-americano, Pato Abbondanzieri seria (e foi) um espectador de luxo.
Sim, porque no jogo da última quarta-feira, era Pato um goleiro soturno. Abbondanzieri o goleiro que ficou no banco de reservas na decisão da Taça Libertadores de 2010, nada pode fazer para mudar o rumo da partida que não fosse nos lembrar de sua história recente de malabarismos e confusões, de saídas homéricas e esquizofrênicas, de defesas franciscanas e em três, quatro, cinco tempos. Verdadeiro bebê jogado na banheiro, era água para todo o lado. Ficou no banco. No soturno da casamata, olhar fixo para o campo, aliviado e conformado. Um pato do absurdo!
Em casa, assistindo ao jogo do time do meu coração, não pude deixar de pensar na solidão dos solitários, esses seres inglórios, os goleiros.
Este, Pato Abbondanzieri.
Um goleiro soturno.
Porto Alegre, 20 de agosto de 2010.
No rio de textos e crônicas que invadiram nossos corações e mentes, e que mexeu com nossas leituras e nossas paixões dementes, afirmo que nos textos que abordaram a segunda conquista da Taça Libertadores da América ganha pelo Sport Club Internacional, na noite do dia 18 de agosto de 2010, faltou tratar de um aspecto insólito. Sempre falta contar alguma coisa sobre um evento tão cheio de significados, ainda que para mim, seja qual for o jogo e seja qual for a sua importância, a loucura é sempre a mesma. Ela pulsa aos nossos olhos. Interessa-me, aqui, diferente da linha oficial da crônica oficiosa, o absurdo. O detalhe grotesco. A minha simpatia é pelo oprimidos e pelos esquecidos de todo o gênero. Interesso-me pelo goleiro, este solitário das traves, o homem que vive no cercadinho da grande área. Por vezes, interesso-me tanto por essa figura consagrada por Nelson Rodrigues em sua crônica sobre o goleiro da Copa de 1950 Barbosa, publicada no livro À sombra das chuteiras imortais, que hoje eu vou falar do outro goleiro esquecido pela torcida. O goleiro noturno – ou se preferirem soturno. Seu nome: Pato Abbondanzieri.
Sim, amigos, o jogo é luz; é palco; é o grito da torcida. O grito de alívio de quem vence e tira um peso das costas, ao mesmo tempo em que também é o grito de desespero de quem vê sua vantagem sumir da noite para a noite – e agora o arquirival, o coirmão vermelho, o Colorado, tem o mesmo número de títulos que o Time da Azenha, a Nação Tricolor. Apesar de ser toda essa festa e euforia em exaltar a toda hora e a todo instante o Talismã Colorado chamado Guiliano, o craque, o matador, o homem-gol, o gol mais bonito da história desta Libertadores, devemos lembrar do trabalho de carpintaria dos reservas, dos olvidados para ficarmos com essa rica e sonora palavra espanhola. E dos reservas, aquele que nos garantiu pequenos sucessos que, antes da final, óbvio, nos levaram à final, foi o nosso goleiro. Falo do argentino Pato Abbondanzieri, um protagonista da escuridão, o homem vestido de preto no banco de reserva do Inter na noite de quarta-feira, era ali, quieto, um animal agonizante (na metáfora de Philip Roth) feito guarda noturno, ou se preferirem a palavra antiga, guarda-soturno, acanhado, sozinho, esperando como todo goleiro (reserva) e assistindo ao sucesso (e às tantas falhas) do titular Renan na competição. Mas Pato Abbondanzieri é um predestinado, um goleiro multicampeão pelo Boca Juniors, e que no Inter veio para se tornar o protagonista. E ele foi. O protagonista do absurdo.
Quem não lembra do famoso pênalti revertido por Abbondanzieri em um dos jogos da fase de mata-mata? E o goleiro-volante? Alguém aí esqueceu o papel de Pato na meia cancha colorada, buscando bolas impossíveis na lateral da intermediária? E as defesas espetaculares seguidas de falhas que causavam perplexidade? Difícil esquecer uma figura tal. O Inter sempre se notificou em trazer espécie em extinção na posição número 1. Tranquilos, os torcedores colorados já sabiam que na quarta-feira da glória e da conquista do segundo título latino-americano, Pato Abbondanzieri seria (e foi) um espectador de luxo.
Sim, porque no jogo da última quarta-feira, era Pato um goleiro soturno. Abbondanzieri o goleiro que ficou no banco de reservas na decisão da Taça Libertadores de 2010, nada pode fazer para mudar o rumo da partida que não fosse nos lembrar de sua história recente de malabarismos e confusões, de saídas homéricas e esquizofrênicas, de defesas franciscanas e em três, quatro, cinco tempos. Verdadeiro bebê jogado na banheiro, era água para todo o lado. Ficou no banco. No soturno da casamata, olhar fixo para o campo, aliviado e conformado. Um pato do absurdo!
Em casa, assistindo ao jogo do time do meu coração, não pude deixar de pensar na solidão dos solitários, esses seres inglórios, os goleiros.
Este, Pato Abbondanzieri.
Um goleiro soturno.
Porto Alegre, 20 de agosto de 2010.
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