Karen, a estranha
O diretor me olha, e é como se me perguntasse:
– Afonso, esta não é a oitava vez?!
Era a nona.
A linda moça à nossa frente é Karen, candidata permanente ao papel
principal.
E mais uma vez procuro os olhos do diretor, pois sei que ele encontrou a joia
rara da Escandinávia que sempre buscou na vida. Mas Karen... Karen é muito
estranha.
Chega. Quieta. Jeito tímida, meio com e sem vergonha, ela chega. E logo recebe
todo carinho da equipe. Maquia-se no tempo certo. Coloca as peças que lhe entregam,
e mais toalhas, demais cremes, acessórios íntimos e todo tipo proteção que o
trabalho exige... Mas quando os atores chegam – e eles não são nada europeus no
trato –, aproximam-se de Karen da mesma maneira que se aproximam de Sueli,
Mônica ou Sinara, ela nunca entende – e recua.
Nua – ou seja lá como estiver – ela desce da cama e corre, vai embora. Deixa
perfume, saudade e ainda por cima aquelas pernas.
O diretor não sabe, mas à noite Karen é só minha. E nada estranha. Mas
ele já me disse que não grava à noite.
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