Nos corredores
Everson Correlato, eis meu nome.
Sempre vi com certa estranheza o meu nome, e nunca soube o porquê.
Penso isso enquanto caminho pelos corredores sem fim desta
instituição, deste prédio imenso e branco que funciona como uma
espécie de reflexão. E na compactação dura destas paredes, é
grande o frio que sinto por dentro. Assuntos, lembranças,
correlações, agora, a natureza morta, a frieza de azulejos, quadros
de gosto ordinário, formando um paredão asséptico e previamente
escolhido – não por mim. São corredores intermináveis que
diariamente me levam para a sala fechada, de mobília limpa que
visito (sou aqui uma visita), e enquanto não saio do quarto,
organizo mentalmente a higiene a fazer.
Sei que tem alguma coisa me come
por dentro, mas eles não querem me dizer, nunca dizem, pergunto,
nada. E de tudo que agora vou lembrando (alguém, um amigo) esta
pessoa sempre me dizia que os eventos engolidos e não digeridos
acabam por nos causar raiva, e a raiva causa depois aquilo tudo. O
que era aquilo tudo? O meu amigo sempre queria conversar comigo sobre
discernimento e ficava me dizendo que percebia o invisível, o que as
pessoas não conseguem compreender. Chamava aquilo “capacidade de
apanhar as coisas no ar”; eu achava pouco objetivo da parte dele.
Mas quantas vezes em outros corredores da vida, ele me apanhou para
conversar “vem cá”, e eu fugia?
Hoje procuro algo nesses
corredores. Não encontro. Entro, saio, fico caminhando lá fora, no
pátio (única liberdade que tenho), mas quando entro tudo retorna.
Tudo que perdi... Primeiro, os amigos, depois as noites de cerveja
com os amigos, por fim os amigos se foram, sobrou o resto e o resto
era nada. E agora esses corredores vazios estão aqui para me lembrar
os imbróglios se acumulando dentro de mim, as paredes se fechando...
E agora eles são intermináveis e me levam cada vez mais para dentro
de mim, apertando, lentamente se fechando... Colado a esta parede,
estou correlacionado a algo que não sei o que é. Talvez nada. É
quando leio a placa no fim do corredor.
Cheguei à saída.
Nessa hora, alguém sempre apanha
meu braço:
– Senhor Everson, hora de ir
para o quarto. Já lhe disse, não tem nada lá fora, fica tranquilo
que amanhã passa.
Não passa.
Ideia original:
setembro de 2006
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