Janelas
Desconheço um tanto desta manhã. São, contudo, fortes os indícios
de que ela começou. Janelas abertas, roupas jogadas no varal, a
garrafa de rum – resquício da noite passada. Mas hoje é hoje.
Sou outro, em outro apartamento. Como vim parar aqui? Estranho também
não reconhecer a mulher deitada atrás de mim, enquanto fumo virado
para este pulmão aberto que é o Conjunto Habitacional D´Ornellas.
Esse nome pomposo, passado, vivido, retraído, o sujeito culto que
fui – hoje: armarinhos, representações e outro pequenos negócios
escusos. Sobram essas janelas. Apoio-me nelas. Sinto um desconforto. Existir - a que será que se destina. Será que
a retiro do sono profundo ou deixo dormir? E de repente estou de novo
na sala de meu apartamento, e no avançado das horas vagas, eu aqui a
esperar que ela se levante, puxe um cigarro e depois se aproxime da
janela em seus passos de bela adormecida, eu então a abanar, o sorriso 24 horas de quem sabe mais tarde (sempre depende dela), e então eu
passo a sonhar com mais uma noite em seus lençóis, depois que outros passaram, passo eu. Este desconhecido
em que me transformei.
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