terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Janelas

 Desconheço um tanto desta manhã. São, contudo, fortes os indícios de que ela começou. Janelas abertas, roupas jogadas no varal, a garrafa de rum – resquício da noite passada. Mas hoje é hoje. Sou outro, em outro apartamento. Como vim parar aqui? Estranho também não reconhecer a mulher deitada atrás de mim, enquanto fumo virado para este pulmão aberto que é o Conjunto Habitacional D´Ornellas. Esse nome pomposo, passado, vivido, retraído, o sujeito culto que fui – hoje: armarinhos, representações e outro pequenos negócios escusos. Sobram essas janelas. Apoio-me nelas. Sinto um desconforto. Existir - a que será que se destina. Será que a retiro do sono profundo ou deixo dormir? E de repente estou de novo na sala de meu apartamento, e no avançado das horas vagas, eu aqui a esperar que ela se levante, puxe um cigarro e depois se aproxime da janela em seus passos de bela adormecida, eu então a abanar, o sorriso 24 horas de quem sabe mais tarde (sempre depende dela), e então eu passo a sonhar com mais uma noite em seus lençóis, depois que outros passaram, passo eu. Este desconhecido em que me transformei.

0 ComentÁrios:

Postar um comentário

<< Home