Sobre bancos e cadeiras
Levantar foi o meu erro.
Da cadeira incômoda daquele café, perdido às três da tarde em dia
útil, o chamado até ali sem razão, horas antes, a angústia da
espera, o nervosismo dela registrado em duas fatias de torta de
chocolate sobre a mesa concluída, e eu chegando para aquele
encontro, sem beijo ou segunda-feira.
Suas palavras não esperam o café:
– Acabou, Luiz Otávio.
O meu pedido suspenso no ar, a garganta seca, a pedir agora nenhuma
gota de café, nervoso, a pedir somente água, muita água ao meu
redor, quando a garçonete enfim arrematou:
– Só isso?
E eu admirado com a pergunta dela, totalmente desprovida de sentido
diante do olhar duro de Ritinha... Será que não sabe o meu
sofrimento, ser acusado de ter dado em cima da Manoela, a melhor
amiga da Ritinha, e Rita à minha frente era um monumento de
incomunicabilidade:
– Acabou.
Dos rios caudalosos de nossas longas conversas nos bancos e poltronas
desta cidade, agora daquela secura, e ainda mais seco fiquei quando a
garrafa de água mineral aportou numa pancada única, e impulsivo eu
levantei em busca de ar, de vida, de esperança, e havia a calçada,
depois rua, atravessar em cegueira bruta, daí um carro no
contrafluxo dos meus impulsos, brecada seca, duro, o som de gritos,
pneu e buzina, o outro lado da rua, era seguir em frente, duzentos e
cinquenta metros, a praça, o banco, onde costumávamos sentar a ver
o rio lá adiante, a sombra encurvada das árvores, fechar os olhos,
sonho.
Ele senta ao meu lado, e eu pensando que as pessoas bem estão perto
de mim como de mim podem se separar, esse impulso, e um longo tempo
depois, quem sabe horas tenham se passado eu sentado no sol forte do
fim de tarde, eu quase passado, ali presentemente, e a noção de
tudo muito longe longe longe, aquele Acabou bastante
árido árido árido, e me senta um velho que começa a falar de um dia
num café, de uma conversa que mudou sua vida, a sua mulher,
Rosalina, sentada à mesa do café a lhe cobrar postura de gente,
dignidade, o emprego, casa, porque não casamos, e ele lembra que
levantou num raio e embora foi para depois ver Rosalina em amores
outros, casamento, filhos, felicidade, a rotina tem o seu encanto,
enquanto ele tocando a vida sozinho, neste instante mais-que-presente
a falar com um estranho em praça da municipalidade.
– O moço, o que acha?
O erro foi levantar-me.
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