quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Something in the past

 Nunca foi lugar para mim, devo confessar, eu, o Paulo Afonso dos jogos muito bem definidos (já recebi muita porrada na vida). Mesmo assim, assim como são os homens que se dedicam a desafiar a vida:
Acelera tanto assim não benzinho que é isso o que está querendo por que não gostou qual é quer encarar, sempre as pergunta ações um irresponsável cento e trinta cento e quarenta daqui a pouco cento e oitenta olha a curva caminhão estrada chuvosa, quase sempre me colocando no limite será que o chefe leu o relatório vão aprovar o meu aumento ninguém desconfia faltou só uma cópia não será que ela me viu abraçado à outra e se tudo ficar na base dos quinze por cento, de certa forma eu também já estava cansado de arriscar fio da navalha camisinha muita pimenta parceiras rodas sempre álcool cartão de crédito preto calça justa e algum veneno antimonotomia.
Era este mesmo um tempo de revelações pra mim. Sun tzu. Astrologia. Yoga e meditação. Tai-chi-chuan. A arte de manutenção de motocicletas. Viagens às montanhas do Peru. Comida japonesa. Botina de escalada e muita caminhada. Outro tanto de cuidado com as plantas que já morriam secas na sacada de meu apartamento de homem solteiro. E agora aquele curso de literatura argentina com Pola Oloixarac. O convite, vindo da minha colega de artes marciais. Abrir a mente. Antes, ela me abria muitas coisas eu vou viver eu vou amar demais a me lembrarem a todo momento a minha história:
A mãe decote outra tia a filha da vizinha minha professora de Matemática do quinto ano a primeira namorada o idiota do Pedrinho fazendo competição de escarrada de porra à distancia enquanto vinha pra cima de mim com aquela mão boba os jogos masculinos chute revidada porrada alguém separa o desprezo da guria da parada seis todos os dias na frente do colégio atrás de Luciana e dos quartinhos de banho escuro fechaduras janelas de banheiro e a fresta a me revelar a namoradinha da irmã do amigo e o olhar dos quatro irmãos repressão nunca poder jogar sinuca na mesa dos adultos o primeiro dinheiro roubado passeios de metrô caminhadas no zoológico encontra amigo com amiga e ao lado aparece a pessoa com deficiência deitado com ela no gramado quase estrupo nunca ninguém viu nunca mais aquela zona incidência cartão de visita marcando bobeira eu não sei o que o meu corpo abriga nessas noites quentes de verão oi tudo bem o que vai ser as compras sempre orientadas pelos amigos mais velhos aquela qual a loira baixinha muitos anos depois o compadre mostra fotos nuncas reveladas na pasta secreta do arquivo secreto no local mais secreto da casa casado segredos secretas mulheres casamento outras mulheres representações sociais trabalho igreja conselho o cidadão respeitável acima de qualquer suspeita caso emprego empresa empregados greve gravidades mas o carro sempre lavado na garagem pronto para a rodar a cidade passeio noturno põe a chave acelera nunca mais ela posando de star nunca mais o teu branco de doer nunca mais literatura argentina nunca mais
É quando saio da sala e até me esqueço da cena: bater a porta em cheio, macho hetero, o que é isso companheiro, está me estranhando, enquanto lá dentro ela provavelmente deve estar agora se perguntando o que deu nele, no Paulo Afonso.



Agosto de 2017
dedicated to D.A.

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