A espera
Na antessala do bloco cirúrgico, um grupo de homens está sentado
aguardando a chamada. Estão ali há poucos minutos, separados que
foram pelo grau da enfermidade e urgência na internação.
Eles esperam.
Nada há nesta sala a não ser alguns assentos, velhas revistas e um
repositório de quadros decadentes pendurados no espaço restrito em
que se encontram aqueles quatro homens. E eles esperam.
O primeiro foi chamado, fez o sinal de algum credo ou religião e
entrou. Essa foi a única vez que os outros repararam nele.
O homem sentado no lugar ao seu lado olha insistentemente para o relógio. De
fato, não há nenhum relógio em seu pulso – apenas a pulseira do
setor de triagem. Angustia qualquer um assistir àquela mecânica em
busca das horas. Ele nem sabe (desconfia) que não vai precisar ter
presa daqui por diante. Algo lhe diz que algo vai acontecer.
O terceiro homem está imóvel, posição altiva, espinha ereta, e
tem no semblante um ar de concentração de alguém decidido. Foi ele
mesmo quem sugeriu aquela correção, uma simples intervenção de
rotina que deveria durar umas poucas horas, depois recuperação
rápida, quarto privado, dois dias, casa. De nada desconfia (nem
imagina) ele que sairá daquele lugar para outro bem diferente, liso
e frio. Nem imagina a surpresa.
O último paciente nada falou; tampouco respondeu às perguntas mais
triviais dos companheiros de sala. Traz consigo certa ansiedade no
semblante e o desconforto diante da situação de vantagem. Sabe o
prêmio que o espera. Tudo já foi previamente combinado. Mais uma
vez ele está ali – é a quinta vez – na antessala de cirurgia.
Logo alguém o levará para uma sala reservada, onde suas roupas o
esperam; também o aguardam ali as garotas que o acompanharão
naquela orgia médica. Ele sabe, aquilo é para poucos, é um clube
fechado, e sempre dá certo.
Está pensando nesse no prazer desses encontros desviados quando, de
forma surpreendente surge na porta outra médica, desconhecida, e ela
entra na sala, forte e autoritária chama seu nome, anuncia o início
do procedimento; ela pouco ou nada se sensibiliza com seus protestos,
deve haver algum equívoco, e assim, mão firme em seu ombro,
ela conduz o paciente ao bloco, em seguida já deitado, a equipe ao
redor, pontas, agulhas, aventais, deve ser algum mal entendido,
doutora, e logo ele já está sedado pela equipe. Pronto: segue
para uma cirurgia que não faz a mínima ideia qual seja.
Este homem não precisa mais esperar: sua hora chegou.
Outubro de 2017
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