O pequeno bunker
Escuro, fechado. Três metros por quatro. Semelhante a um ambiente
lacrado, de propósito. A inutilidade de uma única porta, trancada e
sem trinco. De resto, há poucas informações ao redor, algo para se
agarrar. Não fossem alguns ganchos e buracos espalhados, furos e
pregos já carcomidos pelo tempo, seriam somente quatro paredes
vazias. Quase nada indica que já tenham sido ocupadas um dia. A
hipótese: talvez uma sala abandonada, um quarto desfeito, um
escritório que nunca foi escritório. Quem pergunta é um homem de
cerca de 60 anos – e ele está preso ali, no pequeno bunker.
Assim acredita esse velho homem – e suas ideias algum dia nazistas.
Mas o que estaria ele fazendo ali, naquele quarto compacto e obscuro,
sem chave ou janela, numa espera que não é mais de se esperar? E o
que lembra? Quando foi mesmo que passou a morar ali? Quem o colocou
naquele ambiente lacrado, apartado do resto do mundo? O que era seu
mundo, mesmo?
Fecha os olhos, e a única lembrança vem de um certo cheiro que
identifica. Tão longe, tanto tempo atrás. Seria das crianças, os
gêmeos, chorando. Pequenos, ainda bebês, eles acordavam (sempre um
acordava o outro) e choravam bastante pelo resto do escuro da noite,
e assim fazendo acordavam a irmã mais velha. A menina nunca
conseguia dormir direito.
Agora lembra o desconforto que era quando ela não dormia tudo que
precisava; o choro dos irmãozinhos era aterrorizante. E ele chorava
junto, um grito alto, mais alto, na garganta, até o fim da noite.
Esse senhor, hoje, nos seus tantos anos de vida, agora lembra, sim, do
quarto que construíra para a filha. Ainda que ficasse dentro da
casa, era isolado; absolutamente vedado, e sem a mínima possibilidade de se
ouvir o berro estridente daqueles dois seres meninos. A chorarem. A
acordá-la. Isso tudo vem à sua lembrança num flash sem luz. A
filha perguntando: pai, por que eu tenho que dormir num quarto tão
escuro? O medo da garota diante daquela escuridão. Depois no
quarto, ela dormia, nunca acordava. O isolamento era bom, profundo. O pai, este
senhor, hoje, preso no quarto, era quem respondia: é para os
maninhos não te acordarem. E a partir de então os pais
conseguiam dormir.
Um dia ele acordou, estava num quarto, e era bastante escuro; era
noite durante o dia; o mesmo lugar onde está agora, a refletir, inquieto, o que foi que eu fiz com a minha filha? Depois silêncio, noite, enfim.
Novembro
de 2017
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