Na saída da última sessão de cinema
Quando chegamos, a placa de "vendido" estava presa ao lado da porta de entrada. O antigo prédio do Cinema Aurora (era este o nome?) estava à venda, e agora.... deixaria órfãos os habitantes desta cidade. Onde o roçar? Onde o escuro? Onde a mão caminhando por ínvios caminhos? Onde todo mundo se conhece, e em cada canto escuro do cinema uma história, um palácio, o melhor lugar para o anônimos desta pequena província. Até hoje, eu havia namorado ao acaso, nos meandros das sessões vespertinas da grande sala, algo em torno de quinze garotas.
Agora ela: a garota que ao meu lado caminhava de mãos dadas com o fim.
A última sessão de cinema.
Ela nem viu a placa.
À meia-noite encerram as atividades. Nessa hora, depois de hora, convido-a para sair da sala. Alcançamos a rua. Entro, ligo a caminhonete e já tenho a cabeça em outra cidade. Deixo-a na calçada, olhar perplexo diante do meu aceno, de minha arranca, mas principalmente deixo tudo, porque essa era a última chance de eu ser um grande homem.
Mas quando a sessão se encerrou também no retrovisor de minha caminhonete, e as luzes foram ficando há centenas de metros daquele grande prédio atirado, lembrei que um dia eu ainda visitaria o prédio, adiante outra igreja ou estacionamento, e dela (a garota) eu lembraria.
Na saída – lembro – suas mãos estavam suadas e agarravam mais forte as minhas; não adiantou.
Hoje foi a última vez – isto prometi para mim mesmo.
Foi como um silêncio – o último
A última luz que se apagou.
Sigo no carro em que ela não entrou; sigo nas memórias. Adiante as luzes do semáforo me avisam que esta é o último sinal. Depois é só estrada, destino, mas para onde irei?
Estou saindo pelo estrada.
Preciso mudar de cidade.
E arranjar uma garota mais atenta.
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