Serviço Essencial
Bons foram os olhos dos cidadãos de Campo Largo quando num certo setembro do ano de 19... intalou-se em seu território a Família Ritos. Vieram ocupar um espaço ma cidade, preencher a falta de um serviço essencial; vieram e ficaram. Eram os melhores da região, e tal reconhecimento veio com o passar dos anos e a passagem por outras localidades pequenas. Os Ritos eram realmente bons no que faziam.
Por longos e mais outros tantos anos a cidade não precisou se preocupar com seus mortos: estavam em boas mãos e pás. Todos eram gratos ao Ritos pelo serviço essencial que a família prestava ao munícipes; ninguém, contudo, mantinha sério ou longo relacionamento com o clã funerário. Visitas, festas de aniversário, batismo ou casamento; shows ou paradas; desfiles ou exposições; em nenhuma atividade coletiva ou comunitária da cidade a presença de algum membro da família Ritos se fazia notar.
Ninguém estranhou, portanto, no dia em que o primogênito, Flóscolo Ritos, anunciou a todos que a famlia já não residia mais por ali.
- Estão noutra, resumiu sua resposta quando lhe perguntaram pelo paradeiro coletivo.
Nenhuma notícia tiveram os moradores de Campo Largo até o dia que Flóscolo veio pela segunda vez a público, vinte anos depois, anunciar que não enterraria mais ninguém. E ainda dizer, em fala pausada e com todas as letras escabrosas, que todos já estavam ali com ele, enterrados em casa.
Desde aquele dia, a pequena Campo Largo nunca mais assistiu a um enterro digno e decente. Nem ao de Flóscolo Ritos.
Janeiro de 2018.
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