Um passado militar asfaltado
DEPOIMENTO
Sou filho de caminhoneiro. Nunca tive muito orgulho da categoria –
as matrizes
reacionário-totalitáritas-machistas-armamentistas-sebastianistas
(que pedem a volta do Rei D. Sebastião) são tão comum entre
caminhoneiros como em qualquer bacharel diplomado de classe média
branco cidadão do bem e de boa família que jogou as aulas de
História recente do Brasil no ralo – a água junto com o bebê.
Mas é bom ficar claro que nossa opção e dependência sobre rodas
começou nos anos 1950 (indústria/montadoras automobilística), em
governos proclamados social-democrata (JK) e se concluiu com as
estradas (as BRs) da Ditadura Civil-Militar nos anos 1970. De lá
também cresceram as eternas aposentadorias para filhas de militares,
favores para os amigos, a grande farra dos bancos, juros altos,
dívida externa, a exponencial das construtoras, os monopólios como
o cimento, a televisão, a Rede Globo, o delírio chamado
Transamazônica, crescimento do agronegócio, da tortura, as greves,
a luta pela terra, o fim das ferrovias (a RFFSA viveu de 1957 a
1998), o grande crescimento das megatransportadoras (a Coral era um
império na América Latina quando aos 10 anos eu viajava com o pai)
o escândalo chamado Angra I, II, III, a indústria de armas, a
inflação, a concentração de renda, a fome, a pobreza, a indústria
da seca, o escândalo da mandioca, o crime organizado, o nascimento
do PCC, a corrupção no futebol, CBD/CDF e se quisermos novamente
lembrar os anos 1950 – aquela grande caixa preta ainda por ser
aberta: o BNDES. Tudo isso fez de nosso país um achado de
oligopólios, monopólios, lavagem de dinheiro, grupos mafiosos,
justiceiros (recomendo o filme República dos Assassinos,
sobre o Esquadrão da Morte) e entre todos esses privilegiados pelos
governos militares estão os donos de transportadoras, como esse
Dalçoquio aí que abomina professores e defende a volta da ditadura.
Este não é um caminhoneiro e fez de você um refém de nosso
passado militar asfaltado.
Maio de
2018.
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