terça-feira, 26 de setembro de 2006

Ilha das Batatas


Terceiro dia seguido que aquilo acontece. Naquele ponto, num ponto bem específico, numa frase, ou palavra, localizada sempre no mesmo ponto do livro, alguma coisa estranha acontece que muda o rumo de tudo, e eu de repente me vejo na Ilha das Batatas. Tudo é muito rápido. Dez minutos ali, deitado, luz de cabeceira que vai se apagando, a leitura pausada, e os sonhos do meu filho vão lentamente amortecendo o caminho e o ritmo da leitura que faço ao seu lado. E quanto mais avançamos juntos na leitura, mas percebo que vou mergulhando nas cintilações daquela história, no ritmo daquelas frases; e que de repente estou buscando, ao lado do protagonista-aventureiro, encontrar a Ilha dos Diamantes daquela narrativa judaica. É uma Ilha mágica, em cuja areia avistamos o brilho mazar da tão cobiçada pedra preciosa; e quando menos percebo, sem mais nem menos, sou eu quem está dentro da pequena embarcação, descendo, alucinado, correndo pelas areias escaldantes, e tropeçando na tão sonhada riqueza da Ilha dos Diamantes. Estou empurrando algo, isso é estranho.

Tem um momento que aquilo sempre acontece. Sei, é ali. Então quando no desfecho daquela história infantil, é mostrado que um homem simples e humilde (alguém que buscava riqueza para sua família) encontra uma ilha cheia de diamantes, e que lá, ao deparar-se com seus habitantes, descobre que para eles a coisa mais valiosa não são diamantes, mas batatas, uma estranha inversão de valores se apodera daquela fábula. E, ao invés de diamantes, são batatas que o pobre homem acaba trazendo para casa – para desespero de sua mulher – ainda que no mesmo saco venha junto uma porção de diamantes para resolver a fábula. Nesse momento acontece, e me vejo então chegando em casa com apreensão e batatas.

Acontece ali. E assim à medida que vou contando aquela fábula infantil para o meu filho, alguma coisa estranha acontece. Eis então que me vejo caminhando pelo supermercado e chegando à “ilha das batatas”; e é quando encho o carrinho de compras com quilos e quilos de batatas que acordo e descubro que estou sonhando que estou na gôndola de legumes do supermercado e que minha mulher não vai gostar nada daquilo quando me vir chegando em casa com um monte batatas.

Fecho o livro, dou um beijo no meu filho e vou dormir.

2 ComentÁrios:

Blogger quasechuva said...

esse bom
mto bom
encontrando teus metros

quarta-feira, 04 outubro, 2006  
Blogger Vinícius Mariano said...

gostei da coisa lúdica.
muito bem! :-)

quarta-feira, 04 outubro, 2006  

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