quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Fotografias



Nesses balanços que faço no último dia do ano, ao final da noite, sobram para mim a inaptidão com a lentilha, o desbunde com a espumante e a seleção de fotografias.
Para melhor dizer, nunca tive problema com lentilha – aquela tradição dos três pedidos que, hoje, pelas minhas contas, já somam quase uma centena de irrealizações. Hoje, é estranho, a lentinha queimou.
A espumante é o modo mais chique de coroar a bandalheira de um ano mergulhado em muito álcool, e se aqui escrevo é porque ainda não começou a noite. No último ano, ela terminou cedo, comigo deitado, falando sozinho no sofá deste amplo apartamento deserto.
Tudo começa a se complicar quando chega a hora das fotografias: todas aquelas que queimo na churrasqueira no final do ano, numa tentativa clara e persistente de apagar o meu passado – e o passado se arrasta atrás de mim. Festas. Falsos convidados. Família. A solidão das festas em família.
Este ano decidi fazer diferente. Fui procurar fotos na internet. Comecei pelas mães. Procurei várias – e várias eu encontrei.
Passarei a última noite do ano com elas.

Escrito no último dia do ano de 2015.

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