quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Hálito

Povo marcado / Êh, povo feliz!
Zé Ramalho

Vejo, sinto, entendi: tem vezes que até pressinto. Hálito. Bocas. Meus eros desejos correm soltos nessas ruas estreitas do centro da cidade. O passeio me condena: rumo em linha quase reta pelo calçamento dessas vias entreveradas de gente.
O povo.
Busco estas pessoas, o contato, realejo humano que me anima e remete a pretéritos sentimentos contidos (ora expandidos) de cirurgião dentista. Dias esses em que ficava no consultório até tarde da noite aplicado na vocação e às horas tardes atendendo a comunidade de necessitados. Tantos. Tolos (não sabiam) a me perseguirem em procedimentos administrativos escusos.
Hoje sou mais direto, enfático e – grande vantagem – não preciso do aparato de instrumentos, sala, cadeira reclinada, avental, e aqueles ridículos sapatos brancos. Poucos me exigem o suado aperto de mão.
Não.

Hoje não. Basta apenas encontrá-los, essa massa em pardo desmaio, engrenagem que cruza pelas ruas sem projeto ou futuro. Apenas vivem ou esperam novas possibilidades. E deixo alguns passarem. Antes seguro, palavra, braço: Como vai, lembra de mim? Apenas o suficiente para que por instantes sejam meus. O tempo suficiente para que possam chegar bem perto – e eu bem perto deles. Quem? Não lembro. E novamente reviver o único hálito das horas.

0 ComentÁrios:

Postar um comentário

<< Home