Hálito
Povo marcado / Êh, povo feliz!
Zé Ramalho
Vejo, sinto, entendi: tem vezes que até pressinto. Hálito. Bocas.
Meus eros desejos correm soltos nessas ruas estreitas do centro da
cidade. O passeio me condena: rumo em linha quase reta pelo calçamento
dessas vias entreveradas de gente.
O povo.
Busco estas pessoas, o contato, realejo humano que me anima e remete
a pretéritos sentimentos contidos (ora expandidos) de cirurgião
dentista. Dias esses em que ficava no consultório até tarde da
noite aplicado na vocação e às horas tardes atendendo a comunidade
de necessitados. Tantos. Tolos (não sabiam) a me perseguirem em
procedimentos administrativos escusos.
Hoje sou mais direto, enfático e – grande vantagem – não
preciso do aparato de instrumentos, sala, cadeira reclinada, avental,
e aqueles ridículos sapatos brancos. Poucos me exigem o suado aperto
de mão.
Não.
Hoje não. Basta apenas encontrá-los, essa massa em pardo desmaio,
engrenagem que cruza pelas ruas sem projeto ou futuro. Apenas vivem
ou esperam novas possibilidades. E deixo alguns passarem.
Antes seguro, palavra, braço: Como vai, lembra de mim? Apenas
o suficiente para que por instantes sejam meus. O tempo suficiente
para que possam chegar bem perto – e eu bem perto deles. Quem?
Não lembro. E novamente reviver
o único hálito das horas.
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