quarta-feira, 20 de abril de 2016

DP


Inspirado numa história de bar

              Outra vez nas ruas – à procura.
        Durante anos, sozinho, nenhum outro divertimento que não fosse a lembrança daqueles gloriosos dias,  a dois; noutros a três, fosse quatro só o desempenho em cena contava.
          Agora pelas ruas, o circuito sinuoso pelas ruas internas do Bairro dos Prazeres/Brás, em busca... Sim, em busca dela, a parceira.
            Foram anos e anos de produção nos ambientes mais escusos da indústria cinematográfica. Os companheiros de set. As beldades. Ela. A delegada. Minha carreira interrompida – e toda produção abruptamente encerrada, no auge, por conta daquela brincadeira.
             Meus amores na delegacia.
             Dois bandidos. A delegada. Eu fazendo o papel de durão, comandando a cena. A três.
             Então alguém da Corregedoria não gostou; censuraram o filme; acabaram com a produção.
             Faltava fechar a Boca do Lixo.
            Fecharam. Anos 1980. Repressão.
           Agora nas ruas, giro minha ânsia em busca da garota perfeita, o par, apelo sexual que ainda me move, dez ou doze comprimidos por dia, ainda consigo constituir isto: o desejo.
            Encontro-a no semáforo. Reconheço. Trinta anos esta noite. Arrancamos juntos, persigo, pelas ruas deste bairro, e depois de quadras – aquilo:
           Ela para, estaciona, vejo, miragem, talvez sim, quem sabe não é a filha da delegada, ou da atriz que fazia a delegada naquele filme pornô eternamente censurado.

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