Pokemón com Café
CRÔNICAS PARA MEU FILHO
No dia em que meu filho de seis anos descobriu como escutar os long-plays que tenho em casa (a engenharia de abrir o prato, colocar o disco no centro, levantar a agulha, descê-la e rodar a “bolacha”), ele me disse que faria isso assistindo televisão. Estranhei seu interesse pela combinação de tecnologias e épocas. Bati de ombros: eu queria ver o que ia dar. No mais, fiquei observando seus passos da sala de jantar. Sentou, grudou os olhos na tela e os ouvidos na música. A cena me trouxe à memória lembranças pretéritas, de um tempo em que sentávamos, minha esposa e eu, para assistirmos a filmes em videocassete, desligávamos o som da tevê, colocávamos algum rock no aparelho e tudo ficava num colorido profundo e diferente. Numa das vezes que assisti O Iluminado, foi assim: imaginando diálogos, seqüências e dores.
Não sei se foi por puro amor às aulas de piano, mas o fato é que meu filho escolheu justamente um LP de Egberto Gismonti – de quem já ouvira músicas algumas vezes. Calmamente ele se sentou no sofá, ligou o aparelho de televisão e sintonizou no canal de cartoons, onde estava passando o desenho do herói iluminado – Pokemón. Durante meia hora fomos embalados pelo piano e percussão do disco Sol do meio dia, enquanto na tevê as luzes iam se modificando numa velocidade impressionante que contrastava com os acordes lentos do disco. De brilhantes a explosivas, de radiantes a radioativas, as imagens se modificavam de forma extraordinária.
Lembrei então da época em que lançaram o desenho do Pokemón por aqui. Os críticos diziam que aquelas luzes fluorescentes eram prejudiciais aos olhos e à cabecinha das crianças; que o desenho era um produto alienante; e que aquela agitação toda do bonequinho amarelo tinha o pendor de hipnotizar as indefesas criancinhas. Alguns até sustentavam que o desenho emitia radiação... Não deixe seu filho assistir. Desligue a tevê. Quanta besteira eu li e ouvi.
Hoje à noite, observando meu filho sentado em frente à tevê assistir o herói agitado e escutar, ao mesmo tempo, um dos discos mais importantes da musica erudita brasileira, eu fiquei pensando no poder hipnotizante da música feita com qualidade. Tudo porque, a certa altura, o pequeno me surpreendeu (será que surpreendeu mesmo?) levantou-se, improvisou uma baqueta com um brinquedo que encontro no chão e saiu pulando pelo meio da sala, acompanhando os acordes daquele velho long-play como se estivesse regendo uma orquestra, enquanto em nossos olhos ele desenhava as cores da felicidade.
Radiante, de pé no meio da sala, aos saltos do piano incisivo de Egberto Gismonti, o meu pequeno era um autêntico maestro Pokemón ao som de Café, Baião Malandro e outras fantasias.
Não sei se foi por puro amor às aulas de piano, mas o fato é que meu filho escolheu justamente um LP de Egberto Gismonti – de quem já ouvira músicas algumas vezes. Calmamente ele se sentou no sofá, ligou o aparelho de televisão e sintonizou no canal de cartoons, onde estava passando o desenho do herói iluminado – Pokemón. Durante meia hora fomos embalados pelo piano e percussão do disco Sol do meio dia, enquanto na tevê as luzes iam se modificando numa velocidade impressionante que contrastava com os acordes lentos do disco. De brilhantes a explosivas, de radiantes a radioativas, as imagens se modificavam de forma extraordinária.
Lembrei então da época em que lançaram o desenho do Pokemón por aqui. Os críticos diziam que aquelas luzes fluorescentes eram prejudiciais aos olhos e à cabecinha das crianças; que o desenho era um produto alienante; e que aquela agitação toda do bonequinho amarelo tinha o pendor de hipnotizar as indefesas criancinhas. Alguns até sustentavam que o desenho emitia radiação... Não deixe seu filho assistir. Desligue a tevê. Quanta besteira eu li e ouvi.
Hoje à noite, observando meu filho sentado em frente à tevê assistir o herói agitado e escutar, ao mesmo tempo, um dos discos mais importantes da musica erudita brasileira, eu fiquei pensando no poder hipnotizante da música feita com qualidade. Tudo porque, a certa altura, o pequeno me surpreendeu (será que surpreendeu mesmo?) levantou-se, improvisou uma baqueta com um brinquedo que encontro no chão e saiu pulando pelo meio da sala, acompanhando os acordes daquele velho long-play como se estivesse regendo uma orquestra, enquanto em nossos olhos ele desenhava as cores da felicidade.
Radiante, de pé no meio da sala, aos saltos do piano incisivo de Egberto Gismonti, o meu pequeno era um autêntico maestro Pokemón ao som de Café, Baião Malandro e outras fantasias.