domingo, 16 de novembro de 2008

Zero

PROJETO DE RESENHA

A vontade de morder todas as letras, engolir os parágrafos, um a um, e depois escrever sobre esse livro que me perturbou bastante há 15 anos atrás, e muito mais, muito tempo depois, nessa segunda leitura. Falo de Zero, romance político, caótico e visceral de Ignácio de Loyola Brandão, escrito numa época de repressão. A nossa.

A multiplicidade de formas e estilos. A polifonia dos discursos. A convocação do leitor para participar dessa concha de retalhos sobre a ausência de sentimentos, sobre as vísceras humanas. A sobreposição de narradores. O impacto coletivo da loucura do mundo sobre as personagens que tentam entender o que lhes acontece. Os diferentes pontos de vista sobre o político e o individual, sobre o cruel e o lírico. O social como elemento desagregador; o elemento político como instância distante e indiferente a dispor sobre o destino das personagens. A história narrada como um patchwork a ser montado pelo leitor, ora avançando, ora retrocedendo, mas sempre em direção ao caos, às formas totalitárias de repressão, à tentativa de sobreviver. Um romance urgente, atual, perturbador. A história do nosso país.

Gostaria um dia de ter a coragem de escrever sobre esse livro.

domingo, 2 de novembro de 2008

A rachadura

Numa manhã, ao pisar os restos de uma noite mal dormida, J.B. sentiu o braço escorrer-lhe como um galho despencando da árvore. Estava se sentindo diferente, e acreditou ainda estar dormindo e sonhando. Seu esforço concentrou-se em levantar o dorso, e um estalo forte de madeira rachada o fez voltar-se ao quarto, ao leito, ao estado rígido em que se encontrava e assim ficou.